segunda-feira, janeiro 30, 2006

Ausências

À vezes somos forçados a desaparecer do convívio de amigos, colegas de trabalho, conhecidos, família, etc.
Essas ausências podem demorar horas, dias, às vezes anos.
Nem sempre podemos estar onde e como gostaríamos.

A nossa família supostamente não nos esquece. Quer dizer... às vezes devem fazer como nós. Abstraem-se, alheiam-se. Temos que admitir que também têm direito.
O pior é quando essas ausências colidem com os nossas necessidades de ajuda e abrigo. Aí vemo-nos confrontados com a nossa própria ausência.

É que um dia, algures, prometemos que iríamos estar sempre presentes. E o sempre, nem sempre o é. Simplesmente porque não foi possível, fosse qual fosse o motivo.

Para sempre é sempre excessivo.
Para sempre às vezes é muito tempo.
Ou não...

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Mais intimidades

Em jeito de continuação…

Esta é dedicada.
Porque os posts são como as cerejas.


Mind Games

We're playing those mind games together,

Pushing barriers, planting seeds,
Playing the mind guerilla,
Chanting the Mantra peace on earth,
We all been playing mind games forever, S
ome kinda druid dudes lifting the veil.
Doing the mind guerilla,
Some call it the search for the grail,

Love is the answer and you know that for sure,
Love is flower you got to let it, you got to let it grow,

So keep on playing those mind games together,
Faith in the future outta the now,
You just can't beat on those mind guerillas,
Absolute elsewhere in the stones of your mind,
Yeah we're playing those mind games forever,
Projecting our images in space and in time,
Yes is the answer and you know that for sure,
Yes is the surrender you got to let it, you got to let it go,

So keep on playing those mind games together,
Doing the ritual dance inn the sun,
Millions of mind guerrillas,
Putting their soul power to the karmic wheel,
Keep on playing those mind games forever,
Raising the spirit of peace and love, not war,
(I want you to make love, not war, I know you've heard it before)

(John Lennon)
Laços íntimos

À medida que vamos crescendo – não estou propriamente a falar de idade, estou a falar do crescimento interno, da nossa evolução enquanto seres –, enquanto crescemos, dizia, temos a necessidade de aprofundar as nossas relações com os outros, ou melhor, sentimos o apelo inevitável da partilha do espaço, do tempo, do corpo, de nós.
É assim que desenvolvemos os laços de proximidade com um outro que estamos a descobrir e que iremos sempre descobrindo até ao fim.

Esta dinâmica pode repetir-se vezes e vezes sem conta ou então, porque achamos que sim, estabiliza-se numa relação que responde e corresponde às nossas idealizações, às nossas expectativas.
Não raramente esta ideia do outro vai-se transformando, evoluindo noutras direcções e o equilíbrio desfaz-se ou, pelo menos estremece.

O que importa é que estes laços que se criaram nunca serão completamente quebrados. As intimidades com um grupo de outros que vieram agregados fazem agora parte de uma nova esfera, de uma comunidade que se agarra a nós e não mais de nós se aparta.

Chamamos-lhe família.
E cada vez mais nascem e renascem novas famílias.
A questão é saber se estaremos verdadeiramente preparados para lidar com esta nova (ou velha) ordem de laços íntimos.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Laços

Provavelmente seria interessante fazer uma análise dos resultados das eleições. Poderia problematizar, dizer qual o meu voto, etc. Seria uma discussão, certamente animada.
Acontece que a vocação deste cantito é outra. Por isso vamos continuar a problematizar a vida mais perto de nós. Aquilo com que lidamos diariamente e de que, muitas vezes, nem nos apercebemos. Miudezas, dizem…

É impressionante a maneira como nos vamos ligando às pessoas. Nos últimos tempos, por motivos de força maior, tenho sido levado a pensar nas motivações que nos ligam uns aos outros, como nos prendemos a pessoas estranhas, muitas vezes para o resto da vida.

Damos connosco a preocuparmo-nos com alguém que não conhecíamos e que, de repente, passa a fazer parte de nós. É então que passamos a partilhar alegrias, tristezas, problemas e até o problemas de outras pessoas que não nos são rigorosamente nada e de quem, muitas vezes, até nem gostamos muito.

Estes afectos que se vão construindo ultrapassam largamente a socialização, a inter-relação. Fazem parte de uma esfera mais íntima e, paradoxalmente mais alargada, porque mexe com a nossa estrutura, com o que nos suporta e permite que nos aventuremos por percursos que vão influenciar outras vidas. Às vezes muitas vidas, quando estamos em lugares de decisão. Quando somos, por exemplo, primeiros-ministros ou presidentes da república.

Estas miudezas são isso mesmo. Pequenos questionamentos sobre a pequenez das nossas vidas.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Consumo

É voz corrente e do senso comum que a sociedade contemporânea é, e cada vez mais – muito mais –, uma sociedade de consumo.
A maioria das pessoas, eu incluído, pois claro, consumimos uma quantidade enorme de produtos, muitos dos quais inúteis ou quase, e não só...

O que é perverso é que, no final, acabamos também, nós, por ser consumidos. Aliás, o tal endividamento colectivo de que se fala é a prova de que os indivíduos são cada vez mais consumidos do que consumidores.

Ora eu não estaria para aqui a escrever se quisesse falar do consumo materialista que nos vai afogando em dívidas. Os diversos professores já o fizeram mais detalhadamente do que algum dia eu o farei.
Estou realmente é a falar do consumo que advém da nossa entrega. Seja ela profissional ou afectiva, este de consequências mais gravosas do que se pensa, quando se pensa.

Parece-me. Parece-me, repito, que nos dias que correm se assiste a um enorme endividamento emocional: dá cá um beijo, dá cá, dá cá. Dá-me a tua atenção… Dá-me, dá-me… que depois, um dia destes eu pago-te. Sabe-se lá quando, como e às tantas, porquê. Como se o afecto, que se alimenta de trocas, estivesse em rotura ou fosse desaparecer da face da terra.

Depois, satisfeitas as necessidades afectivas, básicas ou não, um valente tchau e “ala que se faz tarde”.

Agora digam lá se acham isto bem. Não acham pois não?

terça-feira, janeiro 17, 2006

Na Terra dos Sonhos

Andava eu sem ter onde cair vivo
Fui procurar abrigo nas frases estudadas do senhor doutor
Ai de mim não era nada daquilo que eu queria
Ninguém se compreendia e eu vi que a coisa ia de mal a pior

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Andava eu sózinho a tremer de frio
Fui procurar calor e ternura nos braços de uma mulher
Mas esqueci-me de lhe dar também um pouco de atenção
E a minha solidão não me largou da mão nem um minuto sequer

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Se queres ver o Mundo inteiro à tua altura
Tens de olhar para fora, sem esqueceres que dentro é que é o teu lugar
E se às duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanso, está ao teu alcance, tens de o reencontrar

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

(Jorge Palma)
Blog amigo…

Estou a escrever-te de muito longe, de uma terra onde me retenho por consciência e obrigação.
Escrevo-te, quando pensava que não iria ter tempo, quando não pensei, escrevo-te sem pensar, sem reflectir.

Blog amigo, aqui que ninguém nos ouve, deixa-me dizer-te que estás longe de ser inocente. Afinal vives através daquilo que eu quero que tu digas. És assim uma espécie de diário, só que os diários são para as gajas, onde elas escrevem todos os santos dias, na maioria dos casos namoros inventados com estrelas de rock ou de cinema, ou então sobre aquelas roupas fantásticas que a carolina usa mas que afinal é uma megera vaidosa.
Tu não és nada disso, até porque há por aí alguns tipos que me conhecem e que iriam querer saber quem é este gajo afinal que eu pensava que conhecia mas afinal não conheço.
Sim até posso imitar a escrita do Saramago, desde que o diga, claro. É que ainda aparece aí algum comentário a dizer que o estou a imitar. E não e nada disso, é só que não me apetece estar a pensar se as vírgulas estão correctas ou não.

Afinal porque te estou eu a escrever, se já escrevi em ti hoje. E duas vezes. Ainda por cima depois de ter dito que não iria dar para escrever por causa do trabalho.

Olha escrevo-te porque, à semelhança de tantos outros que escrevem para ninguém e para todos, me sinto um bocado farto. Estou cansado e sinto-me mal.
E isso que importa; pensas tu. Claro que não interessa, mas estou a dizer-to. Tal como todos os outros que o dizem, mas de outras formas.
Afinal para que serves tu, se não para desabafos, se não para estórias que acabam, na maioria dos casos, por ser desabafos.
Ou seremos uma espécie de novos predadores? Seremos nós caçadores de fraquezas ou forças que podemos analisar à lupa da nossa magna inteligência.

Afinal escrevo-te porque me apeteceu contar-te uma estória. Afinal escrevo-te, amigo blog, porque és o único que não protesta. És o único que não tem culpas, não tem sonhos, não tem vida própria. Não passas de um blog. E se ando um pouco absorvido por ti é porque, na verdade, não ando a fazer nada de jeito, nada de excitante, nada que me fascine.
Assim sendo, olha, cá vai disto.
Uma catarse pseudo-intelectual para te atirar aos lobos. Sim aos lobos.
Ora, antes tu do que eu…

Afinal, blog amigo, quem és tu e quem sou eu?
Sabes?
Eu, certamente que sim.

E também sei bem a distância que nos separa da loucura e da verdadeira solidão.

O quê? Se eles sabem?

Porque não lhes perguntas tu?
À rasca
Ou os aflitos...


Aproveitei um espaço de fôlego para vir aqui fazer um pouco de catarse, como se costuma dizer.
Tinha planeado fazer uma abordagem à esfera que tem a ver com relações amorosas e sexuais, assunto muito debatido pelos blogs.
É verdade. De repente toda a gente anda com problemas amorosos e sexuais. É como se nunca tivessem havido conflitos entre sexos ou coisa assim parecida.
É um Boom, de facto.

Mas não.
Não vou falar de coisas tão complicadas e que envolvem alguma delicadeza.

Hoje, ia a sair de casa e um vizinho meu, dos poucos simpáticos que o prédio tem, queixava-se do cansaço. Queixava-se de estar a passar-se ou perto disso. Dizia, a terminar que a única coisa que lhe apetece quando chega a casa é brincar com os putos.
São 2 de facto, um casalinho. Ok, ok, eu não falo, eu não digo que é o ideal da família perfeita. Aliás, com casalinho ou sem casalinho, será que existe tal?

Bom, retomando a ideia... é fácil ter a percepção de que anda uma data de gente completamente à toa, eu incluído. Ou por questões económicas, amorosas (lá está), falta desemprego, crise, amizade, identidade e um sem número de outras que poderia aqui adicionar.

Há uns anos acusava-se a juventude de ser rasca. Já se fala, há muito, da geração à rasca.
Eu, por mim, acho que andam todas as gerações à rasca. A juventude, a meia idade, a terceira idade, as crianças, todos, todos andamos à rasca.

Já nem adianta falar da crise, nem sequer da enorme e cada vez maior diferença entre classes.
Adianta, talvez, dizer que andamos todos armados em Dons Quixotes, atrás de moinhos que, para além de imaginários, são completamente ilusórios.

A falta de tempo para cuidarmos de nós, física, psíquica ou espiritualmente é talvez uma causa mais que aparente para este à rasca que nos aproxima do abismo.
Depois é só dar mais um passo.

Mas tenhamos calma. O campeonato está a meio, vem aí o mundial, o europeu e, antes, as eleições presidenciais.
Pode ser que até nos saia a sorte grande. Pode ser que fiquemos com um paizinho que cuide de nós, como só nós gostamos de ser cuidados e protegidos.

Até lá, vamos ter que viver neste equilíbrio fatal, na nossa corda bamba, à espera que, se cairmos, alguém esteja lá para nos apanhar.
Um pouco de intervalo

Olá malta.

Como podem ver há um novo link.
Calculo que vocês, seus brincalhões, não queiram ir visitar. Mas olhem que a coisa é séria.

Eu estou mergulhado em trabalho. Tem épocas assim.
Mas não fui embora, não pensem.

E hão-de dizer-me para que ponho eu aqui poesia e vocês passam ao lado.

Olhem que isto não é por acaso.

Nada é por acaso, na verdade.

Até já.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Pérolas de sabedoria

Pérola 1
Não há mulheres feias. São todas bonitas e boas.
São todas, sem excepção, maravilhosas, fantásticas.
Se não for, mata-a que é bicho.
(1 amigo)

Pérola 2
Vergonha, vergonha,
É o homem casado
não ter onde se ponha.
(1 colega de trabalho, citando...)

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Who Will Take My Dreams Away?

I can't give you all my dreams
Nor the life I live.
You and I know what friendship means,
That's all we got to give.

Who will take your dreams away
Takes your soul another day.
What can never be lost is gone,
It's stolen in a way.

Please, don't stand too close to me,
Can you hear my heart?
Take my warmth and lean on me
When we're not apart.

Now our mission is complete
And our friends are here. (?)
Evil things brought down by the light,
Life goes on until the end.

(Marianne Faithfull)
Escolhas

Passamos a vida entre opções. Pequenas opções, grandes opções, opções positivas, negativas e nem umas nem outras, antes pelo contrário.
As escolhas que vamos fazendo, umas livres, outras nem por isso, constituem pedaços de um puzzle que, no fim, acabamos por ser nós.
A verdade é que não somo capazes de viver sem as escolhas. O clube a que pertencemos, sem saber muito bem porquê, mesmo quando perde, o partido político, mesmo quando governa mal – não estou a falar de nenhum em especial, só para que conste -, se governa.
O filme que vemos, o livro que lemos, a música que ouvimos, o concerto, a roupa, enfim... são um inumerável conjunto de escolhas que vamos fazendo e que ditam, com maior ou menor impacto, o que fazemos e como estamos no mundo. No limite, acabamos por ser condicionados pelas escolhas diárias, as quais, na sua soma, criam a imagem que os outros têm de nós.

Desde que o António Damásio – estou a reler o Erro de Descartes (reler não é bem o termo, visto que da outra vez só li uma pequena parte) – decidiu descobrir que existem no cérebro locais específicos e fisiológicos que ditam os nossos comportamentos, as nossas escolhas podem, enfim, ser quantificadas, decifradas, lidas ao microscópio. Afinal, o facto de sermos a favor ou contra a pena de morte, drogados ou assassinos, pode ser uma representação de uma qualquer degeneração física, um desvio.
Esta pode muito bem ser uma variação científica da teoria da reencarnação a qual também atribui a responsabilidade dos actos a outros momentos, alguns longínquos, da nossa alma.
Ou do nosso tão português Fado, que acaba por ser uma absolvição para aquelas escolhas mais ruins de que não nos orgulhamos.
Aparentemente, então, estamos todos desculpados. O livre arbítrio já era e podemos ser uns grandes filhos de puta à vontade porque não somos nós, é um outro eu que deve ser responsabilizado.
Também podemos optar por responsabilizar os outros. O governo, a religião, o terrorismo, os jornais, o cinema, os pais, etc. É por causa deles que fumamos, que fazemos juízos de valor, que somos indecisos, maus, etc.

Será?
Acredito que muito daquilo que somos pode muito bem ser o reflexo daquela pancada que levámos na cabeça quando éramos pequenos.
Mas, por outro lado, quando mudei a minha vida quase por completo, partindo à procura de uma outra mais interessante, sinto-a como uma escolha livre e não ditada por qualquer trauma da minha alma quando fazia parte da nobreza francesa do século XVIII (somos sempre da nobreza, já ouviram alguém dizer que foi o corcunda do Notre Dame?).

Assim, deve haver um qualquer meio termo para esta dicotomia.
As nossas escolhas são ditadas pela forma como aprendemos a lidar com os afectos. Sim o afecto. Aquele, nosso, obscuro e estranho elemento que nos incomoda e nos torna agressivos ou passivos, inseguros e maravilhosamente apaixonados.
É que, mesmo quando ficamos completamente embriagados pela paixão, temos sempre a hipótese que o tempo nos dá de escolhermos se ficamos ou saímos, se lutamos ou nos rendemos.

Uma coisa é certa. Cada escolha é feita à nossa medida, em cada momento, cara a cara com os cornos dos bois que temos que pegar.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Sala de visitas

Bem, hoje foi um dia em que resolvi colocar mais uns links.
Estes são as visitas (quase) diárias.
É onde eu gosto de ir de visita, beber um copo, ler, comentar, enfim,
Amizades que se vão fazendo, através de conversas, sérias, divertidas, ambas ou nenhuma.

É isso. Apetece-me, ora essa.

... cumplicidades... é o que é.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

The Crystal Ship

Before you slip into unconsciousness

I'd like to have another kiss
Another flashing chance at bliss
Another kiss, another kiss

The days are bright and filled with pain
Enclose me in your gentle rain
The time you ran was too insane
We'll meet again, we'll meet again
Oh tell me where your freedom lies

The streets are fields that never die
Deliver me from reasons why
You'd rather cry, I'd rather fly

The crystal ship is being filled
A thousand girls, a thousand thrills
A million ways to spend your time
When we get back, I'll drop a line

(The Doors)
Susceptibilidades

Ao longo a vida vamos criando laços e crescendo no meio de relações que se fortalecem ou enfraquecem, na mesma medida com que nos envolvemos com maior ou menor intensidade.
Desses relacionamentos, que nos permitem uma maior ou menor interacção com o mundo, alguns dos quais transformam-se em amizades duradouras (ou não), ou se mantêm-se numa esfera meramente cordial.
Para nós, que passeamos no espaço virtual e, neste caso, blogoesférico, esta inter-relação amplia-se. Sabemos que a quantidade não é qualidade. Mas mesmo assim é possível criar laços que têm a ver com a empatia, com a sensação. A realidade volta ao mundo do platónico. O que parece pode não ser. O que se escreve pode não ter a dimensão que se quer, ou, ainda, ganhar uma dimensão superior à que supostamente desejamos.
É por isso que os nossos comentários têm efeitos vários. Às vezes abrem expectativas, criam simpatias, abrem espaços criativos de diálogo criativo (passe a expressão). Outras, têm o dom de ferir as susceptibilidades do outro, do leitor, daquele que está à espera de uma resposta à sua intervenção.

Esta comunicação, sem presença física, não permite que a expressão tenha o seu real valor. Apenas a perspicácia do interlocutor pode trazer ao emissor da mensagem o feedback apreendido pelo outro, por aquele que se interessa pelo que dizemos e, supostamente somos.
Isto vem a propósito de algumas discussões em torno de posts, dos comentários, das respostas aos comentários e contra-respostas, etc.
Exemplos haveriam muitos. Não vale a pena sequer apontar quais porque, mais uma vez, poderia correr o risco de amplificar uma ideia que não pretende ser amplificada.
Claro que os comentários mais escatológicos são os mais vulneráveis a estas controvérsias. E aqui - devo confessar que já os fiz – fazem falta, de facto, o olhar, o piscar de olho, o sorriso, (os quais não podem ser substituídos por quaisquer símbolos cibernéticos), que devolvem a real carga que aqueles têm.

Posso mesmo, afinal, dar um exemplo. Há dias, em resposta a um comentário, eu disse que “somos poucos mas gostamos de pensar que somos bons... digo eu”. Ora não era intenção, de todo, dar a noção de que estes posts e os seus comentários fazem parte de uma qualquer elite intelectual. Antes pelo contrário. Aquele “digo eu” pretendia ser, isso sim, um piscar de olho, uma ironia, um convite, um abrir de portas.
Quer dizer... até parece que estou a justificar a escrita. Não, nada disso. Este é um exemplo tosco daquilo que me fez pensar após o comentário.
Não, não me ocorreu apagá-lo. Porque me pareceu mais interessante falar do assunto.
Num blog, que por acaso leio com assiduidade, as críticas a um comentário que foi apagado foram tão violentas que o autor, depois de o apagar, se retractou dizendo que afinal aquilo que disse não era para ter aquela leitura, ou melhor, que a escrita não foi a que mais servia o que ele queria de facto dizer.

E no quotidiano? Como dizemos, falamos, comentamos?
É verdadeiramente grave quando esta dimensão do irónico não é entendida no frente a frente. Quando, mesmo junto daqueles que fazem parte do nosso convívio, se confunde sorriso por cinismo ou pela ofensa.
Já tive problemas quando, sem saber, meu interlocutor na sua intimidade
Eu gosto especialmente do humor subtil, do sarcasmo, da ironia que se confunde com a verdade. Tenho aprendido a decifrar esta lógica, por vezes perversa, que nos faz rir, dos outros e de nós, com sorte, sobretudo de nós.
Mas o risco é grande, sei-o bem.

Aliás, este texto pode ser, ele mesmo, uma ironia. Pode constituir uma ameaça ou, pelo contrário, mais uma peça de mim, uma construção daquilo que sou e que vou desvelando.


Havemos de voltar ao tema um dia destes. É daquelas coisas que não se esgota porque tem a ver com a nossa relação com o mundo, com os outros. Connosco que aqui nos vamos encontrando.


Se eu pudesse piscava o olho direito (é que me dá mais jeito). Como não posso, Façam de conta que pisquei.

Hehehe

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Amizades...

Há, para mim, um conceito de amizade que se sobrepõe a todas, ou quase todas, as circunstâncias do quotidiano. Aliás, ele há coisas, que nem aos conhecidos de quem pouco sabemos fazemos ou dizemos.
Por isso, quando um amigo me dá aquela facada, fico perturbado, é claro que fico perturbado. Sobretudo quando isso põe em causa não só a mim mas outras pessoas de quem gosto.


É claro que por vezes somos nós que, por este ou aquele motivo estamos na génese destas questões. Ingenuidade? Não será bem. Falta de “olho” para ver para além do que está à nossa frente? Talvez. Erro grosseiro de avaliação das consequências? Certamente.
E foi o que me aconteceu. E já vão duas vezes com alguma gravidade.

A primeira, há muitos anos, ditou, de certa forma (nunca saberei a totalidade das consequências), o meu caminho profissional e, logo, a minha vida. Acabou com uma amizade daquelas que nos faz falta e que, quando se finda, dói durante muito tempo.
Esta está resolvida.
A segunda, ontem, não tem estas consequências. Não implica o meu futuro, penso eu, mas implica uma nova noção de amigo que é o amigo dentro do negócio.
De facto, negócios, ou melhor actividades que implicam ganhar ou perder dinheiro, e amizades, nem sempre correm bem.
Sobretudo quando a formação de pelo menos um interveniente não tem substância afectiva que permita ultrapassar essa distância frágil. Frágil porque se cometem erros de juízo.
E foi isso. Eu SABIA que aquela personagem não era de “confiar”. Mas não tinha indícios de que a coisa era tão... sei lá... tão chata, tão frágil.
Ainda estou sob o efeito deste ruído. Mas esta é a consequência de um acto irreflectido e, portanto, há que aguentar e seguir.
E acreditar que serei capaz de gerir de forma mais racional estes pseudo afectos quotidianos.

Bem, felizmente que há Amigos. A honestidade da amizade prende-se com inter-relações e interacções que não se compadecem com falsidades coladas a erros de juízo ou de valor.
A amizade é! Não há meios buracos, logo não há meios amigos. Ou se é ou se faz parte de um grupo de relações mais ou menos íntimas mas que não podem ter a natureza da amizade.



Hum. Post enorme mas é mesmo assim. Há dias em que temos que ser duros.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Escondido





Oi
Uma boa vida
Para nós que queremos
Ter uma vida boa




Procurar, encontrar...
hehehehehe

terça-feira, janeiro 03, 2006

Arrebatamento

Há dias que me venho confrontando com uma questão interessante aqui na blogoesfera: a liberdade de dizer, de ler, de sentir.
Curiosamente, muitas vezes tenho comentado com amigos meus sobre a dependência da net, das relações cibernéticas, as quais se desenvolvem, não raramente sob o signo da solidão ou da timidez.
Na verdade vamos “conhecendo” personagens (às vezes pessoas, também, claro), pseudónimos que se manifestam com maior ou menor habilidade (fui ao dicionário do Word. A palavra que me ocorria não era tão interessante), mas manifestam-se.

E assim, o espírito voyer que habita em todos nós vai-se alimentando.
…Devo confessar que sempre que passo numa janela aberta num rés-do-chão não consigo evitar um olhar rápido para lá dos cortinados… é mania antiga, esta.
É assim, também que vamos encontrando palavras idênticas às nossas ou palavras que gostaríamos de dizer ou de ter dito.

É assim que dou comigo a concordar ou discordar verdadeiramente, ou mesmo assim-assim, com gente que não conhecemos nem viremos a conhecer. Aliás, já é complicado ler tudo em todo o lado, quanto mais ter a veleidade de pensar que seria possível encontrar uma pequena parte desta gente que cria blogs e os alimenta com a sua sensibilidade ou experimentação.
Assim, quando dei por mim, estava a escrever, a pesquisar, a reler, a compor, a construir, a exorcizar, sei lá… a desnudar-me, pronto.

Quero que este espaço seja o meu gozo. No princípio foi isso que quis. É isso que ainda quero agora.

Está bem, eu sei que 3 meses são pouco para balanços. E depois? Isso é o que tu pensas.
Afinal és um leitor.
Não, não estou a falar contigo que comentas.
Sim, é contigo que tens um blog todo modernaço, que percebes de html comó caraças e que me causas inveja porque eu disso nada sei.

Mas pronto. Tinha que alimentar este espaço em branco. E hoje foi assim.

É fim de tarde.
Para muitos começa o dia.

Bom dia.

Para outros começa a noite.
Boa noite.

Durmam bem.
Seduz-me

Vejo-te todos os dias, mesmo quando não estás. O teu rosto está-me no espírito, é uma ideia platónica, uma realidade para além da matéria.
És uma ideia.
És idealização. Porque afinal existes mas longe do que já te vi. Porque afinal não me consomes, não me usas.
És parte de um mim que já foi eu, num tempo em que imaginei um nós.
Queria que me seduzisses, que me tornasses objecto, que me usasses.
Afinal, aquele lugar em que habitámos é apenas uma memória que serve de referência para usarmos como desculpa para lá não voltarmos.

Vá lá, esquece que já não nos conhecemos e faz de conta que nos estamos a reconhecer.

Lá fora respira-se. Aqui o ar está pesado, o espaço é fechado.
Não te lamentes que eu prometo que também não o farei. Aliás, de lamentos estão o céu e o inferno cheios.

Vá lá, liga-me.
Não me queres seduzir outra vez?