quinta-feira, agosto 31, 2006

quarta-feira, agosto 30, 2006

terça-feira, agosto 29, 2006

Toques...

Que dimensão dás tu às palavras?
Quantas vezes esbarramos no silêncio constrangedor ou, pior ainda, no equívoco do que não se conhece.
A certeza fica, então, apenas na bagagem de quem a entende. Evidência ambígua, individual, pertença do “eu”.
E, afinal, a verdade está lá. É visível no conceito, no fio condutor de cada momento.

Sabes?
Não me dou bem com a clandestinidade.
Não acredito no abstracto, no virtual, enquanto cunho da proximidade.
Por isso, sempre que me deixo tocar, abandono-me e esqueço as regras da inteligência e do adequado.
Sabes?
Não gosto das despedidas.
Já estive em demasiadas ausências.

A estação está a chegar ao fim.
Em breve os ventos de Outono irão amarelecer e derrubar as folhas agora verdes e vivas.
Mas fica sempre a memória do sol e da lua, quentes e esplêndidos.
Esse é o encanto do agir em vez do estacionar, do falar em vez do sussurrar.

Sabes?
Vou repousar agora.
Vou zombar de mim e de ti.
E, no limite, vou esquecer que o prazer tem preço.
Mas apenas aquele que se pretende pagar.


(Foto: "Vou Com o Verão"-Céu Guitart)

quinta-feira, agosto 24, 2006

Bondade...













Vi a face perfeita de um anjo numa viela esquecida e escura.
Encontrei-me no limbo bizarro entre o pecado e a candura
E ali, mesmo no centro do turbilhão de memória distante,
Enfrentei a verdadeira face da incomensurável bondade.

Ignorado o disfarce de inocência, desvirtuada e traída,
Envolvi-me com a claridade de pureza desmedida.
Por momentos, breves e fortuitos, ceguei para o mundo
Porque a bondade desceu à terra em ti, anjo hediondo.

Das fendas da sarjeta de onde te ergueste e te mostraste
Sai um fedor fétido, inexplicável, mas que me apresentaste
Como aroma próprio de perfeita e delicada essência,
Onde se banham ninfas férteis de inocência.

E nesse mundo, bizarro e absurdo de tanta intriga,
Gémeo do mundo em que me encontro e me abriga,
Encontras, dizes, outros seres que trocaram o conforto
Pela enigmática vida de imaginário absorto.


(Foto: Dream About Heaven-Marcin Klepacki)
Maldade...














Queria saber ser mau, odiar sem limites, sem ética, sem clemência.
Apetecia-me usar uma faca aguçada e penetrar o peito dos inclementes que engendram crueldades e roubam a paz aos inocentes, aos puros.
Também eu já perdi a inocência. Deixei a pureza algures numa tempestade em que me perdi um dia, distraído e confuso.

Agora, depois de provar o veneno,
Ergo a taça e brindo ao cinismo
Sou impostor, enceno,
Ofereço-te o abismo.

Mas, mesmo assim, resta-me um fragmento de lucidez.
Apesar de querer magoar, ferir, ainda possuo fome de abraços. Por isso permaneço de olhos fixos no horizonte, onde o infinito se funde com o essencial.


(Foto: Xanthe - Autor desconhecido)
Veracidade...














Procuro dar-te o que de mais interno possuo.
Quero que me conheças o coração,
O interior da alma que construo,
Dar-me sem qualquer limitação.
Procuro invadir-te com o mais exacto mim,
Que declaro em cada vocábulo
Como se cada um fosse o fim,
Onde se esgota o círculo.

A construção das palavras que te digo é atmosfera em que crio a ilusão de um mundo virtual, onde os signos são as gotas de um ribeiro com rumo preciso, mas que também inunda as margens e subverte o seu curso, habitualmente calmo e amável.
E nesse mundo contraditório, onde vive o sentido profundo e diáfano da alma, alojam-se os desejos que convertem a dor em abraço acolhedor.


(Foto:RicardoTavares)

segunda-feira, agosto 21, 2006

Falsidades...


Desejar ser genuíno faz-me esquecer das construções, da imagem, do olhar para o espelho, do olhar do e para o exterior, do olhar... do olhar...

Mas apesar de tudo isto
Prometi ser-te fiel para sempre.
Mas esqueci-me de dizer
Que já o tinha prometido antes
Ao que acredito ser eu.
Esqueci-me de te explicar
Que para sempre é sempre relativo
Ao que posso suportar.

A veracidade é um fio ténue entre o que queremos, o que gostamos, o que podemos fazer e dizer em cada momento.

A autenticidade é uma construção em que o tudo e o nada se baralham, como se embrulhados em onda furiosa no confronto com o areal.

(Foto: Algures da net, autor desconhecido)

sexta-feira, agosto 18, 2006

Amor…
















Agora que o coração se abriu qual janela para o oceano sem fim, permaneço distante da fúria inútil, fútil, algema dos desejos…
Agora, olho a noite através do olhar diurno, brilhante como pedra preciosa que se oferece de saída para o baile…
Agora, finalmente despido, aguardo com serenidade que o amor se instale ao meu lado, sem ansiedades inúteis…

Vem.
Deita-te ao meu lado.
Goza da penumbra de velas aromáticas com os mais perfeitos perfumes que escolhi para te encantar.
Saboreia estes néctares que elegi para te inebriar.

Vem.
Abandona-te e esquece o mundo lá fora em desordem.
Inventei para ti um paraíso onde os desejos se consomem.

Vem.
Porque se não vieres vou partir finalmente sem olhar para trás.

A felicidade é o destino que escolhi.
E ali não entram as almas vencidas pela indiferença.


(Foto: Piotr Kowalik)

segunda-feira, agosto 14, 2006

Ódio…

O carrasco assestou o machado sobre o condenado cujo crime era ter a consciência de que o sentido da vida e da morte reside no imenso paradoxo entre a paixão e a raiva, o amor e o rancor.
E o ódio, imenso, porque acorrentado a marcas do passado, instalou-se, marcou presença. Débil presença.
Porque no coração existe um lugar cativo para o amor imenso e “maior”.
E do outro lado do mundo vieram os gritos que aprisionaram o gesto, detiveram a dor.
E, aos poucos e poucos, os corações inflexíveis passaram a desejar sentir o calor dos sorrisos da felicidade plena.

The Word
Say the word and you'll be free

Say the word and be like me
Say the word I'm thinking of
Have you heard the word is love?
It's so fine, It's sunshine
It's the word, love
In the beginning I misunderstood
But now I've got it, the word is good

Spread the word and you'll be free

It's the word, love

Everywhere I go I hear it said
In the good and the bad books that I have read

Say the word and you'll be free

It's the word, love

Now that I know what I feel must be right
I'm here to show everybody the light

Give the word a chance to say
That the word is just the way
It's the word I'm thinking of
And the only word is love
It's so fine, It's sunshine
It's the word, love
Say the word, love

(Lennon/McCartney – “Revolver”)

quinta-feira, agosto 10, 2006

Uns dias...








... de descanso...

a norte onde espero ter só boas novas...

Mas há maneiras de falar.

Veremos, veremos...

quarta-feira, agosto 09, 2006

A serenidade na metrópole…













Lisboa, cidade de luz, onde se cruzam movimentos perpétuos, onde acontece a cor e o drama, a saudade e o prometido.
Lisboa deslumbrante, quase perfeita… quase, porque a perfeição não existe em cidade nenhuma, em ninguém, de todos os que se agitam nas cidades quase perfeitas.
Lisboa de recantos, de amores e desamores, de águas furtadas, torres, de cinzentos e mil cores e mil raças e mil humores.
Centro cosmopolita, onde é possível deixar afectos, resíduos da alma, porque a alma não se esgota nunca, apesar da urgência e da emergência, da fuga e do medo.
E bem no meio da pedra gelada as escalas do piano, acariciadas por dedos ágeis e apaixonados, intensificam o prazer da verdade. Porque, no limite, a verdade não pode ser trocada nem esquecida, mesmo quando o medo faz doer e detém o desejo da entrega apetecida.


(Foto:Ant. O agradecimento a Catherine)

segunda-feira, agosto 07, 2006

Afinal o que se passa connosco?...







Toca o telemóvel. Entrada de mensagem.
Lê-se. Responde-se.
Novo toque. Resposta.

Incessante, o jogo das palavras silenciosas persiste, até que um resolva pôr fim a este alheamento do nós.
Porque, afinal, a voz passou a ser apenas sombra, ficção.
Fica-se longe, tão longe quanto este silêncio o permite. Longe, porque o equívoco substitui a verdade. Longe, porque é preferível acreditar que se está ao lado, quando afinal se está mais longe, muito mais…

As palavras digitais passaram de telegrama a diálogo de intimidades.
SMS, MMS, MSN, abreviaturas e ícones…
…a substituição da voz – porque incómoda, porque inútil –, por signos.

É fácil, então, mas perverso, remeter os afectos para este mediador e manter a aparência da comunicação.
Em cada momento pactua-se com a ausência da voz, reflexo da urgência, da pressa, da indisponibilidade.

Então, o desabafo cai em forma de texto num qualquer e-mail, num blog, num sms. Nunca na conversa, no diálogo, incómodos porque incluem olhares, toques, gestos, confrontos.
E o medo persiste… o medo de perder ou de se ficar prisioneiro dos afectos.

Toca uma vez mais o sinal de mensagem.
Depois, quando se despeja o conteúdo, aguarda-se a resposta… vem, não vem? Demorada imediata? Nem sempre é importante, porque afinal o que importa é que o outro leia o que apeteceu dizer no momento urgente.

E a urgência, sempre a urgência faz esquecer que o telefone também tem voz.

(Foto:As Sombras-Paulo Martins

quinta-feira, agosto 03, 2006

Portas abertas...













Os jogos terminaram, César foi para casa, os leões foram recolhidos, o Coliseu fechou as portas.
Tempo de lamber as feridas, de olhar de frente a vida e a morte, vitórias e derrotas, o amor e o ódio.
Acabou-se o tempo para esgrimir em nome da ideia de uma causa – mesmo se nem sempre perdida –, e transformá-la numa certeza em tempo real.

Tens razão, amor.
As dores devem ser sentidas,
Não podem ser substituídas
Por pílula ou licor.

O presente é fragmento,
O futuro meu unguento
E o sonho a partida
Para rota incerta.


(Foto:jardimdepaz.zip.net/images/porta.jpg)

terça-feira, agosto 01, 2006

Não é preguiça…












… apenas a busca de momentos
… que dizer…

O descanso que não tenho porque o mar me invade e me faz estremecer.

Deito-me
Pouco durmo.
Receio que ao chegar ao areal
Não tenha oceano
Onde me espraiar.


(Foto:Ant)