quinta-feira, dezembro 29, 2005

Ano Novo
Vida Nova


A minha professora da escola primária, hoje chamada ensino básico, tinha sempre esta frase feita: ano novo, vida nova.
A expressão era lembrada sempre no início de um novo ano lectivo e repetida no início de um novo ano civil, com o ar grave de quem esperava de nós, os alunos, um empenho reforçado.
É claro que nada de novo acontecia, tanto num como noutro “novo ano”.
As mentalidades eram as mesmas, os objectivos mantinham-se, bem como as expectativas e os meios para as alcançar.

Assim se mantêm as coisas. Vamos encontrando amigos e conhecidos e vamos desejando Bom Ano e que “as coisas, pelo menos, não piorem”. Como diz a canção: “Para melhor está bem está bem, para pior já basta assim”.
Ora nestes últimos dias temos assistido a indícios de que as coisas não vão melhorar assim tanto.


Nesta semana o país parou. Está tudo fora.
É como em Agosto. Só que em vez de praia vai tudo para a neve.
Tudo? Bem tudo não. Eu não fui. Não posso…
Mas de resto…
Queres contactar com aquele tipo que vai dar resposta aos teus projectos? Está fora.
Queres reunir sobre aquele assunto que está pendente? O responsável não está.
Até os blogs estão quase parados. E os que não estão, não têm nada de muito interesse.
Quer dizer… As boas festas, os Bom Ano 2006. Não são inutilidades mas está tudo a guardar-se para Janeiro.

Até porque vêm aí as presidenciais.
Não. Não vou botar discurso. Não tenho pachorra.

E assim, também vou desejar a mim próprio que o próximo ano seja melhor. E tem que ser porque este foi um autêntico massacre. Um ano igual e acho que me passo de vez.

Afinal o que se pode desejar?
Tudo.
Queremos um ano com projectos. Que os que temos de pé se mantenham. Que venham outros.
Queremos estar activos, vivos e de saúde, não é?
Queremos amar, ser amados ou vice-versa.
Queremos ser felizes.
E temos o direito a isso. Pena que os que estão acima de nós, sentados nas suas poltronas de veludo, qual reis e donos de toda a verdade não estejam de acordo.

Poderemos mudar alguma coisa? Creio que sim. Pelo menos dentro de nós podemos mudar. O resto, bem o resto virá por acréscimo.

Ano novo, vida nova…

E mai nada!!

terça-feira, dezembro 27, 2005

Este texto encontrei-o num blog que, penso, está desactivado, fechado.
Já não é possível, ou pelo menos eu não consigo, chegar lá.
É pena. A personagem que escrevia imprimia uma intensidade dramática aos textos difícil de encontrar por aí. E encontram-se coisas muito interessantes e de grande qualidade por esses blogs fora…
O endereço fica aí. Quem sabe alguém descobre onde pára a “Puta Controvérsia”.

Esta é a minha prenda de Ano Novo a quem aqui passar.


Beijo

Beija-me...

Deixa-me sem ar, sem motivos para voltar,
Sem vontade de escapar...

Beija-me...

Na praia, à noite com estrelas a decorar...
Beija-me...
Se não tiveres coragem podes fingir que vais tropeçar..
Beija-me...
Eu ponho-me em bicos de pés e esforço-me para não cair...

Beija-me...

Tira-me todos os argumentos
Disponíveis para fugir...
Beija-me...
Faz-me sorrir uma vez que seja
Vive em mim...

Faz toda a gente sentir inveja, faz o meu coração saltar num trampolim
Encosta-me à parede como nos filmes americanos
Escolhe uma posição difícil para parecer original
Vamos esquecer que como humanos respiramos
Hoje é o nosso dia de Carnaval...

Beija-me..
De baixo da ponte, à frente do comboio ou numa rocha à beira-mar

Beija-me
Conquista-me, ganha-me...

Beija-me
Chega com passos leves e apanha-me de surpresa...

Beija-me...
És o único que me pode tirar desta tristeza...

Então... beija-me...


eyeliner ®
Todos os direitos reservados - eyeliner ®
http://death.blogs.sapo.pt/

sábado, dezembro 24, 2005

Conto de Natal

Todos os anos, por esta altura, ando com uma neura descomunal.
Este ano a coisa está ainda mais complicada que o habitual e até faz desconfiar das intenções do Menino Jesus.
“Homem sem fé” – direis.

Bem, todos os anos, também por esta altura, me acontece qualquer coisa que me faz repensar esta depressão que sempre me ataca.
Ou um amigo que já não vejo há a nos me aparece à frente e me faz feliz, alguém que tem um gesto verdadeiramente natalício para com alguém que até posso nem ser eu. Enfim, qualquer coisa.
Hoje, no cúmulo da distracção (vou abreviar), deixei a minha mala onde transporto coisas como uma agenda, o painel descartável do auto rádio, um disco portátil cheio de trabalhos e documentos pessoais (meia vida é o que é) e outras coisas mais ou menos importantes, deixei-a, repito, junto á mesa onde almocei. Onde? perguntam vocês, amigos que aqui vêm? Na zona da restauração de um centro comercial.
- Mas estás parvo? - Perguntais. Hoje, num centro comercial? Ainda nas compras de Natal?
Nada mais errado. Não queria ali estar mas as coisas são assim mesmo e estava, pronto.
Adiante…
No cúmulo do desespero volto ao local e a dita, claro, não estava lá. Pergunta aqui, pergunta ali, cafés, mulheres da limpeza, seguranças… nada.
Assistência ao cliente e nada. Atendimento do Jumbo, nada. Corro à Administração e peço a consulta às câmaras de vigilância para identificar o tipo que me levou quase metade do ordenado e mais o trabalho e tudo o resto, inclusive textos, fotos, etc etc., "tem que esperar o visionamento e acesso talvez só com autorização policial".
Quando se encontra a mala de alguém, é suposto entregá-la nos perdidos e achados, não será?
Mas não.
Raiva, tristeza, desespero, aceitação.
Sim porque como me disse um amigo, agora já não havia nada a fazer a não ser esperar ou desistir “e aguentar”.

Rezei. Não tanto para pedir a coisa de volta, confesso. Mas para ter força para me desapegar da coisa. Para arranjar maneira de voltar a ter, pelo menos o material. É que a vida não está fácil...
Na verdade estava entre o aguentar e o não desistir (não sou de baixar s braços facilmente), quando o senhor Luís me liga para o TM dizendo que tinha a minha mala.
E o disco está aí? (prioridade)
Está. Está cá tudo.
Chorei. E não foi só de alívio. Foi um conjunto de sentimentos a desabar.
Fui buscar. Não foi perto. O senhor Luís não deixou a mala nos serviços do centro porque não confia. Preferiu encontrar lá dentro uma indicação, um contacto e ligar-me. Ainda bem. Assim pude oferecer-lhe uma das poucas prendas que vou oferecer este ano.
O senhor Luís está longe de entender a dimensão do seu gesto. Ou talvez não. Talvez tenha chegado a casa e tenha dito à família que “gostava que vissem a cara de felicidade do homem” que era eu.
Que pieguice, poderá algum de vós pensar.
A verdade é que numa altura em que é difícil acreditar na honestidade, no respeito (ao que me disseram, palavra em desuso), aparece alguém que diz: meu amigo, você está enganado. Tem que ter mais fé.
Enfim, as conclusões ficam para outro post. Ou talvez, os meus, poucos, mas bons, visitantes as possam escrever comigo.

And so merry Christmas…

terça-feira, dezembro 20, 2005

Dá-me o tempo

Dá-me o tempo
Que o tempo é meu.
Escondido, fechado,
Arrefeceu.
Dá-me o tempo
Que o tempo é meu.
Apesar de guardado
Não se perdeu.

Esquece essa estrada
Que vai directa ao passado.
Há outra viagem
Que tem um rumo marcado.

Dá-me um tempo
Do que não de perdeu.
Vive aqui ao lado
Também é teu.
Vê que o tempo
Não esquece o que é seu;
Caminhos cruzados
De quem já se perdeu


Esquece essa estrada
Que vai directa ao passado.
Há outra viagem
Que tem um rumo marcado.
Esquece essa estrada
Que vai directa ao passado.
Está um barco parado
E tem o rumo marcado.

Tem rumo marcado
Tem rumo marcado

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Amo-te

Amo-te em segredo.
Quer dizer, não é bem segredo.
É segredo porque apenas o posso segredar, apenas os meus ouvidos o podem ouvir.
E os teus, também, em surdina, como um conto fantástico em que te vejo como um outro eu que se debate nos dois lados do espelho.

Amo-te, talvez.
Talvez não o bastante para o transformar em poema ou canção. Talvez apenas para o dizer em voz baixa, com medo que se transforme numa realidade que me assusta.
É assim que te vou amando até que a chama se consuma e nada reste que uma recordação com a qual, vista à distância, posso viver sem medo.

Amo-te.

A medo, sim. A medo porque, para não te perder de vez, prefiro manter o segredo só comigo.
Sem doces

Estou lixado.
As minhas vísceras estão muito frágeis o que quer dizer que no Natal nada de vinhos, aguardentes velhas, doces e iguarias diversas pouco.
Enfim, nada de gulodices não vá a coisa entornar.
Estou chateado pronto!
Já não basta a chatice que é estar ali com uma data de gente que, se o caldo entorna, se transformam em ogres, e ainda por cima tenho que estar sóbrio e sem açúcar em quantidade decente.

Bolas.
Este Natal não vai ser fácil.
Amplificador

Neste espaço blogosférico tenho lido coisas fantásticas, tenho “encontrado” gente interessante, blogs com textos formidáveis, na sua variedade: sérios, irónicos, apaixonantes, góticos, pop, feios, cheios de conteúdo, poesia, amor, desamor, desordem, sexo, frustrados, frustrantes, enfim de tudo.
Enfim, um mundo onde se faz um pouco de análise grupal, onde se tem acesso a espelhos de vários tipos, tamanhos e reflexos.
Neste mundo, onde não há referências do corpo, do físico, fica o encanto pelas palavras escritas, imagem eventualmente distorcida do outro que nos questiona, que nos interpela, que nos apaixona.
Paixão questionável?
E a imagem? Esse elemento objectivo que nos conduz? Qual o seu peso no conhecimento do outro?
A imagem do outro que nos apaixona pelas palavras, será aquela que temos dele?
Essa paixão resistirá ao confronto com uma realidade diferente da que supomos?
A imagem é o primeiro encanto, a primeira sedução. Só depois vem a palavra, quando vem. Os odores, o toque, vêm depois.
Aqui, nestes encontros virtuais, podemos esconder-nos ou mostrar-nos, a opção é individual. E assim, já não é só o texto que se constrói. Eu próprio passo a ser uma construção, porque é essa construção epistolar que se apresenta ao outro, que me deseja ou me detesta.
Mais ou menos sedutora, mais ou menos real que a minha, também, construção física.
Afinal quais são as diferenças entre este espaço etéreo e o espaço físico que apelidamos de real, se não a possibilidade de nos tocarmos e nos olharmos?
Porque afinal, podem passar anos até que a nossa aparência não seja mais construção mas, antes, um espelho de nós, um amplificador que nos desvenda, sem medos nem pudores.

Ó valha-me Deus. Para o que me havia de dar...

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Rosa

A Romy, é este o nome porque gosta de ser conhecida, conheci-a no Bairro Alto, numa festa.
Conheci-a quase no momento em que a vi. Nem dei pelo percurso entre a minha cadeira e ela. Eu nunca soube dançar mas, juro, naquela noite o ritmo tomou conta de mim. Depois, ainda meio anestesiado, tinha-a nos meus braços; ou ela teve-me nos seus, o aroma da sua pele e dos seus cabelos loiros a invadir-me, a possuir-me.

A paixão que arrebatou-me...nem sol, nem chuva... nada me faria desistir de ti, mulher que me tiraste a noção da realidade e da minha timidez.
No dia seguinte outra festa, outro momento... “Quando isto acabar temos que estar juntos...”
Mas depois ficou o vazio. Nem contacto, nem nada, o vazio...

Passou quase um ano...

Íamos, eu e amigos a caminho da Ajuda, Festa do Avante (quando era um acontecimento cultural, lúdico, musical, sei lá mais o quê), oiço chamar de dentro de um eléctrico.
E de repente o mundo parou. O tempo não existiu mais, o espaço desapareceu. “É a Romy!!”
E era. Era a Romy.
A Romy que me chamava. A Romy que me reconheceu na trémula claridade das luzes, rua acima.
Corri. Corri rua acima como se fosse a última (ou a primeira) corrida da minha vida.
E ali estava. Cabelos loiros, olhar brilhante, sorriso aberto. O eléctrico parou para nos ver num abraço que nunca mais acabou.
O beijo, os beijos primeiros. As trocas, prendas, referências disponíveis, instantâneas que seriam a nossa memória do instante, qual imagem que se tem no álbum das fotos de sempre.

Depois vieram as cartas, loucas, cheias de poesia, fantasias, temores, confissões, nunca de planos, mas de ideias, projecções de um tempo que não iria acontecer.
Os passeios, os beijos em qualquer momento, em todos os lugares, sem pudor, arrebatados.

Um dia os caminhos separaram-se. Porquê? Nunca o saberemos, talvez. “Quando descobrir o que sinto por ti, se calhar deixamos de andar...”
A Romy, soube há tempos, está na Suíça. Família, filhos... longe.

Outras mulheres amei.
Apaixonei-me outras vezes.
Mas a Romy tem este lugar especial de um amor que se alimentava de toques de mãos, de olhares cúmplices, de sorrisos e risos, gargalhadas.

Não, não tenho saudade.
O tempo, o tempo corre e outros amores arrebataram, levaram-me a outros momentos.
A Romy é uma memória de um outro tempo em que o amor era ingénuo.

E se tudo acabar teremos encontro marcado com os nossos tempos presentes, a nossa vida que se prolonga muito para além de nós.


Um beijo.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Crime (s)

Há 25 anos recebi a notícia como um murro no estômago. Não consegui conter as lágrimas.
No dia anterior, 8 de Dezembro, John Lennon tinha sido assassinado à porta de casa por um tresloucado que se achava paladino de uma qualquer causa, transmitida por uma qualquer voz directamente para a sua cabeça.
Ainda tinha o “Double Fantasy”, último álbum editado com vida - primeiro depois de um silêncio assumido -, quase novo no gira discos.
John, independentemente da estética musical (uns gostam outros não) foi, concorde-se ou não com as suas posições, um activista. Incomodou, chocou, influenciou. Não ficou no cantinho da fama a fazer canções de amor e ódio. Veio para a rua expor convicções, apontar o dedo.
Em parte, devo-lhe ter optado pela Objecção de Consciência, em vez de ir brincar aos tirinhos para um quartel qualquer.

Antes dele e depois dele houve e há todos os dias mortes hediondas.
Como o meu primo João, assassinado pelos dealers que lhe levaram a seringa à desintoxicação e que ele utilizou para acabar com a vida e sofrimento, numa casa de banho, agulha espetada na cabeça.
Como todos os putos, pais, mães e irmãos que todos os dias morrem e vêem morrer, por causa de causas que não o são na verdade.
Como os que morrem em cadeiras eléctricas, na forca ou carreira de tiro, num acto privado/público, em nome de uma justiça que nem sempre (quase nunca) é justa.
Não. Não acredito na pena de morte. Seja ela legitimada por uma qualquer ideologia ou justificada por uma sociedade que vai criando monstros atrás de monstros, numa linha de montagem perversa que nos alimenta os medos do lobo mau.
Muitas vezes não consigo conter as lágrimas.

O facto de ainda hoje milhares de pessoas cantarem “Give Peace a Chance”, comprova que a mensagem, difícil e, fantástico(!), provocadora, ainda faz sentido.


John, onde quer que estejas, espero que ainda acredites que um dia destes o Amor e a Paz ainda terão a sua oportunidade.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Clemência

Há pessoas, como este indivíduo que trabalha aqui, mesmo ao lado de mim, que são merecedoras da nossa pena, dó, eu sei lá mais o quê...

Este indivíduo, como milhares, vive, alimenta-se, respira da ilusão de mandar. A oportunidade de dar uma ordem, um comando (nem sei se ele alguma vez foi militar), funciona como um tónico, um afrodisíaco que o mantém activo.

É vê-lo excitado, a correr de um lado para o outro, manda aqui, manda ali.
E ri-se e grita e esbraceja possuído por essa ilusão de que trabalha imenso.
Cansa-se e cansa-se e cansa-nos.

E reclama e vocifera que até dá dó.
Sim, é verdade.
Depois de ter passado por momentos de raiva e ódio, já só consigo sentir pena do homem.

Não que o ache uma boa pessoa que vive injustiçada. Não.
É só porque já não consigo evitar este sentimento ignóbil da Pena.

Estes indivíduos, que pululam um pouco por todo o lado, acreditam que nesta vivência pouco afável e aborrecida para nós que os vemos cirandar, pisar, à espera de um momento para subirem para as costas dos que se limitam simplesmente a tentar sobreviver às suas investidas e de todos os outros iguais a eles.

Esses, os outros, porventura mais inteligentes (ou espertos), são aqueles que nos dirigem e nos azucrinam a bola.

Fazendo minhas as palavras de uma amiga recente:

Dasssss.
Limbo

Entrar?
Sair?
A dúvida esculpida no afecto em queda livre.

Dentro?
Fora?
Sentimento sem sentido, sem espaço, sem tempo.

Para sempre?
No fim?
Vertigem em frente ao abismo antes do mergulho.

Agora?

Nunca?
Miragem de um destino em estilhaços extinto.

Dias felizes

Estes dias não são felizes.
São páginas de uma vida que se quer renovar mas que navega em águas turvas, inquinados por equívocos que se adensam pelas palavras (mal)ditas e (mal) ditas.
Estes dias não são felizes e deveriam ser.
Mas porque silêncio é o refúgio dos sentimentos nada resta para além das vagas memórias que nos aquecem.
Mas tão pouco...
Os dias felizes são construções constantes. São braçadas vigorosas pelas águas lamacentas da vida, até à descoberta de lagos cristalinos onde o afecto se purifica e se alimenta.

Estou sem força...

Prometo que não me lamento.
Apenas me deixo levar um pouco pelo desânimo...

Até recuperar de novo o alento.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Saber...
Já há algum tampo que me apercebi de que, desde os meus primeiros anos, tinha aceite como verdadeiras uma quantidade de falsas opiniões e que aquilo que desde então fundei sobre princípios tão mal garantidos, apenas podia ser muito duvidoso e incerto.
(Descartes)

sexta-feira, dezembro 02, 2005

...Noite...Noite...

"Ouvem-se, aqui e além, cozinhas a apitar,
teatros a guincar, orquestras a roncar;
as mesas das pensões, onde o jogo seduz
enchem-se de putéfias e escroques seus cúmplices.

E os ladrões que não têm tréguas nem piedade
começam, também eles, agora o seu trabalho
e vão forçando portas, caixas suavemente,

para vestir as amantes e viver uns tempos."

(Baudelaire)
Virtualidades

Tenho ouvido falar de amor, de desamor, desânimo, paixão.
Tenho lido sobre política, traição, sexo, infância, infâmia.
Tenho sabido de gente: bonita, menos bonita.
Tenho conhecido fé, descrença, piedade, carência.

E nesta esfera, quiçá traiçoeira, recolhem-se impressões, informação de um mundo que se descobre, ao mesmo tempo que se encobre no éter virtual, paradoxo de comunicação verdadeira e falsa de homens que são mulheres e mulheres que não o são.

“Ó admirável mundo novo que tais belezas encerras.” (Aldous Huxley)

Sim, admirável mundo novo que permites esta convivência tão ilusória quanto encantadora.