sexta-feira, setembro 29, 2006

Sem dor…















Dar a volta à vida
Por cima da cerca
Que separa
A lucidez
Da tempestade

A dor da pirueta
Desfeita no pranto
Que arrisca
A lágrima
O sufoco

Choro por mim
Choro por ti
Pelos sonhos impossíveis
Por fantasias irrealizáveis

Abraço-te no limite da impossível utopia
E deixo-te lentamente
Serenamente

Afasto a dor

Abro as portas à tranquilidade.


(Foto:
http://osorrisodalua.blogspot.com)
Quase perfeito…


O movimento do som
Contraponto
Contradança
Contratempo

Baloiço entre tons e meios-tons
Irrompo pela penumbra
Por entre o fumo

Alcanço-te

Toque espontâneo

Deixo-te entrar
Livre
No salão
Baile

Momento
Quase perfeito…

Porque a perfeição
Completa-se
Para além do tempo

Do movimento
Do momento.


(Foto: Ant)

quinta-feira, setembro 28, 2006

Tu...
«Há sessenta rainhas, oitenta concubinas e jovens sem conta; mas a minha pom­ba, a minha perfeita, é única.»
(In Cântico dos Cânticos)




O tu é o desmoronar de fronteiras, passagem para o íntimo.
Chamo-te... quero-te por perto...
O tu em uníssono com esse te que aplico na visão única de ti... a minha...

Vejo-te... mergulho-te na alma...
Sem limites...


“A paixão amorosa... irrompe inesperadamente entre dois estranhos e arrasta-os, mesmo contra a sua vontade, um ao encontro do outro....
É um estado emotivo novo, desconhecido, inesperado e inebriante.
... “O enamoramento ... é uma experiência única e inconfundível, uma perturbação radical da sensibilidade, da mente e do coração, que une numa só duas pessoas diferentes e afastadas... produz uma transfiguração do mundo, uma experiência do sublime.
É loucura, mas também descoberta da própria verdade, do próprio destino. É fome, desejo, mas, ao mesmo tempo, impul­so, heroísmo, esquecimento de si próprio. «Amo-te»... não significa só «gosto de ti», «quero-te», «desejo-te», «nutro afecto por ti», «agradas-me», mas sim «tu para mim és o único rosto entre os infinitos rostos do mundo, o único sonhado, o único desejado, o único a que eu aspiro acima de qualquer outra coisa e para sempre».

(In Amo-te, Francesco Alberoni)


(Foto: TheShell - NunoFerro

quarta-feira, setembro 27, 2006

Miro-te…













… ao longe, do outro lado do lago, onde se deita a serpente do desejo.

O telescópio já não apanha os resíduos das fantasias… das cores… dos cálices… dos ideais…
Apenas me resta a imagem que guardo de viagens alucinadas por estradas serpenteando por entre as serras e os rios.

Onde estás agora?
De algum modo sinto-te perto do que sempre foste… mas distante…

Procuro-te no âmago, no centro do coração…
Encontro-te apenas no interior do meu espaço… escondo-te…
Capturo-te em fotograma, único resto de momentos vividos, partilhados, imaginados.

Miro-te…
Ao longe vejo-te a sombra que se move, desliza sobre as águas…



(Foto: Quietude - Hugo Félix)

terça-feira, setembro 26, 2006

Desalinhados…


A questão não é simples, longe disso. A opção é complexa, digo eu…
Ser ou não ser alinhado, eis o assunto.

Nos tempos de miúdos inconscientes roçávamos as calças por algumas paredes. Gritavam-se impropérios contra isto e aquilo e a favor doutros istos e doutros aquilos.
Sem os limites de qualquer cor ou bandeira.
(O único emblema que me faz alguma borbulhagem é a do meu clube, escolhido sabe-se lá porquê, no tempo em que, isso sim, roçava as calças pelo chão e rompia os sapatos de tanto pontapé na bola.)

Depois, enfim, depois vieram as convicções. E aí é que a coisa ganha dimensões perversas.
Não alimento tribos nem turbas inconscientes. Acredito na liberdade individual, porque é no indivíduo que tudo começa, tudo se passa. Do interior para o exterior.
Não acredito no desalinho decadente das alucinações e dos delírios artificiais, virtuais.
Desalinhar é estar consciente, desperto, longe dos lençóis de cetim…

quer dizer… ele há cetins e cetins… lençóis e lençóis…
Fundamentalismos dão no que se sabe… e também não é preciso ser tolo…

Ninguém se mantém sempre coerente. Também melhor seria…
As distracções... Por momentos, escolhe-se se não o fácil, pelo menos o mais ligeiro.
Errado.
Não há bela sem senão e o que parece fresco e fofo revela-se duro e bolorento.

Depois, ao retomar o caminho mais agreste, fica a sensação de inutilidade pelo tempo perdido.
Não importa.
Há um tempo para correr, um tempo para calçar chinelos, um tempo para reiniciar a viagem.

Mas o sabor amargo de uma espera que se fez tarde, é apenas suavizado pela convicção de que a liberdade tem o preço de uma vida inteira para ser vivida.

Olhar para trás? Apenas o tempo necessário para que a memória guarde a doçura dos presentes que se recebem e que são propriedade individual e intransmissível.

Desconheço o ritmo das músicas que oiço já tão perto.
Parto… com destino incerto, mas com destino.


(Foto: O Céu... quero-lhe tocar – Rui Bento Alves)

segunda-feira, setembro 25, 2006


Que certezas…













A única certeza que adquiri ao longo do tempo é a de que
não tenho certeza alguma.


(Foto: Jorge Jacinto)

quarta-feira, setembro 20, 2006

Os maus...













Os maus são aqueles que nos querem fazer mal.
Os maus são pessoas más que, por qualquer razão e sem qualquer critério, gostam de provocar infelicidade, mal-estar, desgosto nas outras pessoas.

As más pessoas pululam por todo o lado. É frequente cruzarmo-nos com elas na rua, nos empregos, nos cafés. Enfim, na vida.
Admito que me incomodam.
Incomoda-me a pequenez destas más pessoas que se divertem com a infelicidade dos outros.
Não ser pessoa má não implica necessariamente que se seja pessoa boa e a expressão “boa pessoa” também é, não poucas vezes, sinónimo de frouxidão.

Até entendo as pessoas más que vendem drogas e armas. Ganham dinheiro, poder, influência.
As pessoas más, as pequenas, com quem nos cruzamos diariamente, essas, fazem-me infeliz.
As pessoas más têm sempre certezas, são possuidoras das mais verdadeiras verdades. E com essas certezas vão atraindo cúmplices que, por sua vez, vão atraindo cúmplices, que por sua vez vão atraindo cúmplices.
Esta roda pode passar-nos ao lado ou vir embater-nos na vida e, caso o deixemos, destruir-nos a alegria e a confiança de que existem pessoas boas.

Já me cruzei com pessoas más e com más pessoas. Algumas, porque sedutoras, interessantes, belas ou apenas aparentemente boas pessoas, desiludiram e deixaram um traço no interior do peito.
Às vezes um pouco mais do que isso.

Não gosto dos maus.
Os maus, os pequeninos, com um mundo ilusório de poder dentro do seu pequeno mundo, são os que mais detesto.
Os outros... os outros são visíveis, bem visíveis.

Há dias uma pessoa boa deu-me uma boa tareia. Explicou-me o que eu já sabia mas que andava meio adormecido.
Isto quer dizer que nem sempre quem nos apaparica são as pessoas más.
Antes pelo contrário. De certeza que todos já fomos mimados por pessoas más.

Honestamente penso que, cada vez mais, a escolha entre o bem e o mal que reside dentro de cada um de nós se torna mais complexa.

Uma coisa é certa: bons e maus acabam todos deitados.
Resta a escolha de como seremos recordados por aqueles de quem gostamos e que gostam de nós, quando a partida for sem regresso.



(Foto: Cegueira-Ana Maria Russo)

sábado, setembro 16, 2006

As desculpas não se pedem…














Beyond the horizon of the place we lived when we were young

In a world of magnets and miracles
Our thoughts strayed constantly and without boundary
The ringing of the division bell had begun
Along the long road and on down the causeway
Do they still meet there by the cut
There was a ragged band that followed in our footsteps
Running before time took our dreams away
Leaving the myriad small creatures trying to tie us to the ground
To a life consumed by slow decay

The grass was greener
The light was brighter
With friends surrounded

The nights of wonderLooking beyond the embers of bridges glowing behind us
To a glimpse of how green it was on the other side
Steps taken forwards but sleepwalking back again
Dragged by the force of some inner tide
At a higher altitude with flag unfurled
We reached the dizzy heights of that dreamed of world
Encumbered forever by desire and ambition
There's a hunger still unsatisfied
Our weary eyes still stray to the horizon go down this road we've been so many times

The grass was greener
The light was brighter
The taste was sweeter
The nights of wonder
With friends surrounded
The dawn mist glowing
The water flowing
The endless river

Forever and ever

"Hey, is that Charlie? Yes... Hello Charlie... great"

(Pink Floyd , “High Hopes”)



Desculpas…
Pequenos ruídos do quotidiano…
A oportunidade de reparar o acidente.
Perdão…
A inequívoca dádiva de coração aberto.
Intemporal, plena, reparadora.

… mergulho no oceano profundo…

(Foto: Ant )

quarta-feira, setembro 13, 2006

Um homem não chora…




… Nem que a terra trema,
Nem se o mundo desabar
Ou na mudez de dilema
Ou em momento de azar.

Um homem não chora
Depois de ler Stau Monteiro
E vestir a gravata às riscas
E esperar pelo Godot
Preso, em cativeiro,
No esquecimento das horas.

Um homem não chora
Nem se o negro é definitivo
Um homem não chora
Nem quando chora
Porque apenas retém
Poeira caprichosa.

Um homem não chora
Nem quando se aparta
E quando a noite falha
E as palavras se engasgam
E as carícias são inúteis
E os sonhos acabam.

Um homem não chora
Sobretudo
Quando
Queres que ele chore.


“There is no pain, you are receding.
A distant ships smoke on the horizon.
You are only coming through in waves.
Your lips move but I can’t hear what you’re saying.
When I was a child I had a fever.
My hands felt just like two balloons.
Now I got that feeling once again.
I can’t explain, you would not understand.
This is not how I am.
I have become comfortably numb.
There is no pain, you are receding

.………..
When I was a child I caught a fleeting glimpse,

Out of the corner of my eye.
I turned to look but it was gone.
I cannot put my finger on it now.
The child is grown, the dream is gone.
I have become comfortably numb.”

(Pink Floyd, in "Comfortably Numb")



(Foto: http://actionsspeaklouder.com/photos/pierrot.jpg)

terça-feira, setembro 12, 2006

Saudades











Dizias-me tu, amor,
Que havíamos de estar juntos para sempre
Dizia-te eu, amor,
Que iríamos ser amantes para sempre

E então?
A magia esgotou-se no excesso?


Que laço foi quebrado?

Que espaço devassado?

Fica o sabor de lábios mordidos
A fadiga de corpos fundidos

No limite,
Pensa, amor, que tivemos
O que um dia quisemos.

“What if there was no lie
Nothing wrong, nothing right

What if I got it wrong
And no poem or song
Could put right what I got wrong
Or make you feel I belong

Every step that you take
Could be your biggest mistake
It could bend or it could break
That's the risk that you take”

(Cold Play - in "What If?")

(Foto: Despojos de um voo... - MariaAvelino)

domingo, setembro 10, 2006

Como nasce um paradigma?
escreve: Gustavo Fernández
















Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, no centro colocaram uma escada e, sobre ela, un montão de bananas. Quando un macaco subía a escada para agarrar as bananas, os cientistas lançavam un jacto de agua fría sobre os que ficavam no solo. Depois de algum tempo, quando um macaco ia a subir a escada, os outros moíam-no com pancada.
Passado algum tempo nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.

As novas gerações de macacos faziam-no sem nem saber porquê.

Não percamos a oportunidade de pensar por que nos batem, ou porque é que pensamos as coisas de uma forma quando poderíamos fazê-lo de outra.


"É máis fácil desintegrar um átomo que um preconceito" (Albert Einstein).

(Recebido por mail)

quinta-feira, setembro 07, 2006

Fama…














… finalmente...

Vou dar a cara. A partir deste momento abdiquei do anonimato.
Agora vou ter os meus 15 ou 20 minutos de fama. As mães podem apontar o dedo e dizer que “ali vai o Sr. Ant, o tal que escreve na Internet”.
Agora já só vou sair de casa com óculos escuros porque assim serei por certo reconhecido.
E é isso que queremos todos, não é?
Afinal de contas, não podemos disfarçar.
O objectivo de todos os que andamos para aqui a escrever ou deixar fotos e artigos e outras coisas é mesmo o de sermos famosos, nem que seja por uns breves instantes. Esse momento fantástico em que lemos as críticas, os elogios, as abomináveis leituras de corrida
É pelos beijos que nos deixam, pelas palmadinhas nas costas, enfim pela visibilidade. Pela visibilidade em fim.

Eu, a partir de hoje, já não vou ter descanso.
Até ao dia, em que farto, direi a toda a gente que me deixe em paz porque já não quero mais a fama, o reconhecimento.

Até lá, aqui estou. Depois… Bem, depois, farei um retiro para uma casa algures longe, muito longe da ilusória pequena glória de ser nada.


(Sei lá quem tirou a foto...)

terça-feira, setembro 05, 2006

Setembro...


no seu melhor...

(Foto:Ant-Setembro, 4, Praia da Riviera Costa da Caparica)

sexta-feira, setembro 01, 2006