Desalinhados…
A questão não é simples, longe disso. A opção é complexa, digo eu…
Ser ou não ser alinhado, eis o assunto.
Nos tempos de miúdos inconscientes roçávamos as calças por algumas paredes. Gritavam-se impropérios contra isto e aquilo e a favor doutros istos e doutros aquilos.
Sem os limites de qualquer cor ou bandeira.
(O único emblema que me faz alguma borbulhagem é a do meu clube, escolhido sabe-se lá porquê, no tempo em que, isso sim, roçava as calças pelo chão e rompia os sapatos de tanto pontapé na bola.)
Depois, enfim, depois vieram as convicções. E aí é que a coisa ganha dimensões perversas.
Não alimento tribos nem turbas inconscientes. Acredito na liberdade individual, porque é no indivíduo que tudo começa, tudo se passa. Do interior para o exterior.
Não acredito no desalinho decadente das alucinações e dos delírios artificiais, virtuais.
Desalinhar é estar consciente, desperto, longe dos lençóis de cetim…
quer dizer… ele há cetins e cetins… lençóis e lençóis…
Fundamentalismos dão no que se sabe… e também não é preciso ser tolo…
Ninguém se mantém sempre coerente. Também melhor seria…
As distracções... Por momentos, escolhe-se se não o fácil, pelo menos o mais ligeiro.
Errado.
Não há bela sem senão e o que parece fresco e fofo revela-se duro e bolorento.
Depois, ao retomar o caminho mais agreste, fica a sensação de inutilidade pelo tempo perdido.
Não importa.
Há um tempo para correr, um tempo para calçar chinelos, um tempo para reiniciar a viagem.
Mas o sabor amargo de uma espera que se fez tarde, é apenas suavizado pela convicção de que a liberdade tem o preço de uma vida inteira para ser vivida.
Olhar para trás? Apenas o tempo necessário para que a memória guarde a doçura dos presentes que se recebem e que são propriedade individual e intransmissível.
Desconheço o ritmo das músicas que oiço já tão perto.
Parto… com destino incerto, mas com destino.
(Foto: O Céu... quero-lhe tocar – Rui Bento Alves)