O vazio... despojado do inútil, do efémero, da ilusão
Dor...
Mas também fica para trás
A efabulação e o sabor amargo
De personagem construída
Em torno de equívocos.
Resta a verdade
A espera de uma totalidade
Que se busca no âmago
De uma solidão adquirida.
O prazer
De te encontrar no passeio
Pela marginal do desejo.
No olhar azul do oceano.
Longe do medo...
E da miragem...
E ao fundo do deserto
Um banho cristalino
Tu estás lá
Braços abertos
Sorriso teu no olhar azul de um mar sem fim.
segunda-feira, maio 29, 2006
sexta-feira, maio 26, 2006
Tenho acompanhado as notícias sobre Timor, até porque um amigo meu resolveu viver na terra materna onde, achava ele, tinha um papel a desempenhar.
O que me preocupa nestes conflitos, semelhantes a tantos outros onde um povo oprimido se autodetermina, seja lá o que isto quer dizer, é a incapacidade de se libertarem do “vício” da opressão. (Vejam o nosso exemplo: ainda não expurgámos verdadeiramente os tais 40 e tal anos de castração).
A primeira ideia que eventualmente nos ocorre é que voltem os opressores que estão perdoados.
Mas isso é o desespero que fala demasiado alto.
Na verdade, como dizia Willem Reich, nós, “o Zé Ninguém”, somos responsáveis pelas nossas escolhas, somos responsáveis pelos nosso actos e não podemos simplesmente delegar totalmente, aos poderes que vamos escolhendo, uma responsabilidade da qual temos participação.
Mas é verdade, também, que neste tempo de Vigiar e Punir, nos confrontamos com a dúvida e a incerteza do nosso papel de intervenientes do mundo e no mundo.
Em Timor as promessas de um Mundo Novo estão a desabar.
Quiçá porque em Timor, como em Angola, Guiné, irão, Iraque e, porque não em Portugal, os umbigos estão demasiado evidentes e a clamar por atenção.
No fundo, a libertação colectiva só resulta da evolução individual, das escolhas livres de cada um.
Um dia, talvez demasiado cedo para nós, um novo guru vestido de farda sedutora e de palavras afectuosas, vai decantar o nosso desejo de segurança e investir uma nova ordem.
Infelizmente hipnotizados, beberemos à saúde do líder e seremos cada vez mais massa sem individualidade nem desejos.
quinta-feira, maio 25, 2006
Esta noite tive dificuldade para adormecer. A cabeça cheia de pensamentos e delírios estranhos que me levaram aos limites do racional.
Nos últimos tempos tenho pensado no que nos leva a dar poder aos outros para intervirem no nosso íntimo, alterando-nos o humor e a sensibilidade.
Neste delírio enfiei com um monitor na cabeça de um indivíduo que nos últimos anos se tem entretido a moer-me o juízo.
À partida nada de grave. Estes desvarios têm a função de não passarmos ao acto, descarregarmos virtualmente a fúria que, de outra forma, nos colocaria em situações de fragilidade.
O que é grave, isso sim, é o facto destes indivíduos com quem convivemos todos os dias nos colocarem no limbo entre o bem e o mal, o amor e o ódio.
O negativo ganha quase sempre.
Reverter este estado de espírito requer um exercício mental que devolva o sentido natural da vida: o amor.
Este conflito entre o que quero ser e o que é possível ser, em cada momento, em cada dia, desgasta e, no limite, abala a fé.
É que depois são postas em causa as entregas e as trocas afectivas que vamos fazendo. Instala-se a desconfiança nos outros, naqueles a quem nos entregamos sem limites, sem esperar mais em troca que os seus afectos.
Felizmente que aparece sempre uma voz que nos conhece e nos devolve a realidade, nos trás de volta a verdadeira essência do que somos.
E hoje passei por um indivíduo, pedinte de outras terras, por quem já tinha passado outras vezes sem ligar muito (pedintes há tantos não é?) e resolvi agir. Foi tão simples como comprar dois pêssegos (até pareciam saborosos) e dar-lhe.
O prémio foi o sorriso.
E este pode ter sido o primeiro movimento que transforme este dia o “primeiro do resto da minha vida”.
Devagar... muito calmamente...
quarta-feira, maio 24, 2006
É de noite
que desvendamos mistérios.
É de noite
que possuímos impérios
porque de noite os fluidos
são ribeiros impacientes.
É de noite
que amamos com emoção.
É de noite
que se cansa o coração
e os corpos se gastam,
logo a noite os consome.
Pássaro de cristal
amigo e sensual
pousa na minha mão.
Encanta-me com a tua canção.
É de noite
que juntos nos enganamos.
É de noite
que nos regeneramos,
depois de nos abraçarmos
desfazendo tudo em fumo.
É de noite
que possuímos castelos.
É de noite
que nos transformamos em belos
e navegamos em veleiros
para sofrermos em duelos.
(Foto: Reflexo-PedroGomes)
terça-feira, maio 23, 2006
Sempre me deste a comida à boca
E me mantiveste seguro
E me protegeste de todo o mal
E me fechaste os olhos à adversidade
E mantiveste-me confortável e quentinho
Deste-me uma gravata bonita
Para usar em festas de família
E prendeste-me a ti
E tiveste medo que fugisse
E fechaste a porta à chave
E deste-me emprego
Deste-me tudo o que era possível dar-me
Tiraste-me tudo o que eu podia ter ganho
Não me falaste de atalhos
Fizeste-me perder tempo
Mas fica a saber uma coisa que tenho que te dizer rapidamente
Apesar de tudo foi possível encontrar caminhos sozinho
E recomeçar
E escolher
E partir
E chegar
E perder
E ganhar
E perceber que o tudo
É tantas vezes
Nada...
(Foto: Water Moves III-DanielCoelho)
sexta-feira, maio 19, 2006
Influenciar-te...
Os actos são susceptíveis de influenciar, de modificar, de quebrar rotinas
De colorir, de nublar, de ampliar, de reduzir, de transformar
De fazer pensar, alienar, enfatizar, sorrir, comover
Uma só mensagem, olhar, carta, poesia, canção
São olhares sobre o mundo
Individuais
Partilhados
Construídos
Um só dia pode ser fábula que vale uma vida
Uma ideia que contagia
Contamina
Arrebata
Confronta
Deixei-te imagens que são momentos
Flash de um tempo anónimo anódino
Retratos nem sempre inocentes
Mas sempre autênticos
Fica o teu sorriso como resposta
E no fim
A resposta do meu sorriso
(Foto: Luís Lobo Henriques)
quarta-feira, maio 17, 2006
Vou fechar a porta.
Acabou-se o tempo a fugir
A loucura das ilusões que se alimentam da tua presença longínqua.
Vou esquecer que possuí uma sala onde te sentaste ao meu colo, impávida e serena, à espera da minha canção de embalar.
Estou farto de afectos virtuais. Daqueles que duram e duram e tudo escondem. Daqueles em que pensamos que nos conhecemos mas que deixam sabores acres, porque afinal escondem quem somos de verdade.
Quero que me acaricies as mãos
Que me leves aos limites das sensações.
Não me digas que podemos ficar para sempre neste limbo
Entre o bem e o mal, entre o pecado e a virtude.
Merda!
Quantas vezes te disse que os meus silêncios
São olhares pelo mundo que prometemos construir?
Agora já não me basta ficar a olhar o céu dos teus olhos.
Sim, quero-te na totalidade,
Quero penetrar-te, sentir-te completamente,
Inundar-te do meu desejo, em inúmeras cascatas do meu ser.
Não te faço promessas eternas, não te posso dar a alma
Porque, se ta der, fico despojado do meu quarto
Onde toco as teclas do meu piano, onde tanjo as cordas da minha guitarra,
Onde fabrico os sonhos que nos devolvem o desejo de estarmos juntinhos
Tão perto que não damos espaço para mais ninguém
Que apenas nós.
(Foto: Peso Do Mundo Leveza Dos Bracos-PauloCesar)
segunda-feira, maio 15, 2006
De me dizeres que termos um filho seria fantástico?
De te dizer que termos um filho seria virar o mundo do avesso, de fazermos a Terra rolar ao contrário, subvertermos a lógica, de vencermos o medo dos desaires?
Lembras-te de te contar os projectos de um novo mundo, contrário do mundo que conhecemos?
E agora?
Leste que a Mónica que tinha 12 anos morreu às mãos de um pai que também teria esperanças de mudar a vida mas que se terá perdido algures entre o desânimo e a violência de um tempo em que o tempo é curto de mais para mudar a vida?
Que desculpa vamos encontrar para perdoar a loucura de quem não acredita na vida nova que se encontra em cada vida que nasce, sem culpa nem desejos maiores que o amor?
sexta-feira, maio 12, 2006
onde pétalas perfumadas nos servem de leito.
Desejo-te para além de encontros fortuitos,
em que nada mais conta para além do desejo.
Sinto-te em mim mesmo quando és apenas memória
de quarto iluminado apenas por velas aromáticas.
Abraço-te a alma e agarro cada instante ambicionado
E assim me liberto em galope de cavalo alado.
quarta-feira, maio 10, 2006
“Tens que ganhar juízo...” dizem-me.
A verdade é que não encontro o boletim para esse jogo...
terça-feira, maio 09, 2006
Vi os olhitos na dúvida de um adeus difícil de entender. Procurei dar o conforto e dizer que a distância não limita o amor ou que a ausência não quer dizer “zangado”.
É cedo, muito cedo para resolver e deixar claro que não há erros nos nascimentos nem nas mortes. Apenas o desencanto que passa por dentro dos olhares que simplesmente entendem o adeus, sempre tão demorado.
Para sempre é um de mais que se consome do desejo da eternidade que um dia apeteceu.
Fica em suspenso o que há para dizer a esses olhitos que, na sua dúvida, se remetem para a confiança de um sempre que se confirma em cada abraço de “até já” e nos sorrisos de uma esperança que nunca está adiada.
segunda-feira, maio 08, 2006
Estou agarrado ao telefone à espera que me ligues
Quero que me digas que tudo está bem
Que esperas por mim, que escondeste a chave no sítio combinado
Que posso entrar sem cerimónias e que seremos só nós
Que tudo é claro, que não há equívocos
E que vais acariciar-me o cabelo.
Liga-me e convida-me para jantar
Convida-me para um banho perfumado
Acende velas aromáticas, a única luz acesa
Deixa-me adormecer colado aos teus cabelos
E pensar que amanheceremos unidos
A planear os dias que virão.
(Foto tirada do Diario de Sombras)
quarta-feira, maio 03, 2006
E no descanso do suor, as palavras soaram exigentes, como apelo de permanência, de eternidade imprevisível, quiçá efémera.
E a incerteza alimentou o desejo na arena onde o gladiador baixou a rede, certo da inutilidade da força perante o teu olhar cúmplice que esmagou a ansiedade e o temor.
(Foto: Jorge Garcia)