terça-feira, novembro 29, 2005

Bailarina

Vem dançar
Sob as núvens
E a luz suave da lua.
Porque a noite perdoa a quem se despe.
Porque a noite ama mais a quem não mente.

O teu sonho
Está loge de ser louco.
Só pecas se dançares pouco.

Vem dançar.
Vem dançar,
Bailarina.
Quem serás
Senão dançares a vida?

Vem dançar
Nas ruas da cidade.
Não esqueças ceder
Ao corpo essa vontade.
Que a noite é o sonho que te promete,
Todos os desejos de quem sente.

Loucura é ficar no vazio.
É pecado estar quente
E ficar no frio.
Não chegavam até mim

Sabia que era tarde
Mas não tanto como é.
Já se queimou o tempo
E adormeci de pé.

Sabia que era longe
Mas não tanto assim.
Já parti em viagem
E não lhe vejo o fim.

Já tinha visto a noite
Mas não como a vejo.
Tinha sido enganado
Pelas asas do desejo.

Já tinha ouvido gritos
Mas não como hoje ouvi.
Dantes pareciam poucos,

Não chegavam até mim.
Sonhar II

No sonho o homem pode olhar por um momento o maravilhoso tapete do mundo com as suas figuras mágicas.
(Hans Bradermann “Dicionário ilustrado de Sonhos”)
Sonhar I

Qualquer de nós na sua vida ouve música, é um poeta e um vidente.
Cada um de nós pode ultrapassar os seus próprios limites e, por momentos, tocar nos segredos da vida: revelação que julgávamos reservada a alguns seres privilegiados.
(Ania Teilhard “Linguagem dos Sonhos”)

quarta-feira, novembro 23, 2005

TOPO DO MUNDO

Os dias não afogam
somos nós
a perdê-los ébrios,
irreais fins de vida

Na quela rua
noutra esquina
gente nua
sombra esquiva.

Viver
no topo do mundo.
Mundo da rua.

Olho a rua
onde sempre estás.
Fogo aceso?
Indolente.
Sempre vou?
Tanto faz.
No deserto espreito
o sonho ausente.
E viver
no topo do mundo.
Mundo da rua.

Terra, vento,
tudo aguento nú,
no mundo da rua.

Aí está
quem te quer ter.
Flor do dia,
uma mão,
dever.
Dessa caravela beber
como água
o vinho a correr.
Tenho pouco
quero mais que fantasmas
de heróis abandonados
em terras de ninguém.

E viver no topo do mundo.

Mundo da rua.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Risco

Só para ti que partes
em ondas brancas de sal

para destino incerto
onde nem sabes chegar
ficam as memórias
de um areal incrédulo
de que chegues a sair sequer
quanto mais voltar

quinta-feira, novembro 17, 2005

UIVO

MÁSCARA DE TERROR
ANSIEDADE, TURPOR.
A CORRIDA INCESSANTE
ENTRE O CAIS E A CIDADE.
E O UIVO,
ACIMA DE TODOS OS GRITOS
MAIS ALTO QUE O RUÍDO
DAS RODAS E DOS PÉS,
E DOS LAMENTOS.

NÃO É CRIANÇA A NASCER
NEM GATO A MORRER
NEM PREGÃO A VENDER.
É O UIVO.
NÃO É MÃE A CHAMAR
NEM PAI A BATER
- OU VICE-VERSA-
NEM FILHO A CLAMAR.
NÃO É PUTA
A SEDUZIR QUEM PASSA
OU O CHULO A RECEBER
NÃO É PRESA NEM CAÇA.

NÃO É TERRAMOTO
NEM INUNDAÇÃO,
MAREMOTO.
TAMBÉM NÃO É
IMAGINAÇÃO.
É O UIVO.
NÃO É LOBO
NÃO É CÃO
NÃO É CIO
NÃO É FRIO.
TAMBÉM NÃO É GENTE
A MORRER EM CONFUSÃO.
POR MAIS QUE TENTE
NÃO É EJACULAÇÃO.
OU O QUE QUER QUE SEJA
QUE EU CONHEÇA.


Descaradamente inspirado em Allen Ginsberg
Ruptura

Foda-se... Foda-se. Foda-se! Fodaaasssssssse!!


Foda-se toda a gente que se lamenta sem cessar.
Foda-se toda a gente que está mal e não procura estar bem. Depois lamenta-se.
Foda-se quem se acomoda e não faz pela vida.
Foda-se quem impede os descontentes de fazerem pela vida.

Foda-se!

Foda-se a mulher ressabiada mas que tem dores de cabeça, das costas, ou outra dor qualquer quando o marido quer fazer amor.
Foda-se o marido que se queixa da indisponibilidade da mulher mas que chega todas as noites cansado do trabalho, depois de se andar a atirar à estagiária de 20 anos lá no escritório, ou lá onde se diz que trabalha.

Foda-se o estudante que protesta contra o ensino mas que é um cábula e passa os dias a coçar o cu pelos corredores e a tentar “comer” a “Daniela” que é a gaja mais gira da turma.
Foda-se o professor que faz a vida negra aos alunos com matérias de merda que não servem para nada a não ser para que eles pensem que o tipo tem uma grande “Carola”.

Fodam-se os trabalhadores que passam os dias a dizer que o emprego é uma merda e que ganham pouco mas continuam a lamber as botas aos patrões.
Fodam-se os sindicatos que organizam manifestações e greves e que jantam copiosamente à conta das cotas dos sócios.

Foda-se a opinião pública que acusa os funcionários públicos de serem os culpados da crise. Foda- se o funcionário público que se queixa de ser funcionário público e continua a ser, porque sim.

Foda-se!

Fodam-se os ministros que insistem em acabar com a crise à conta dos aumentos dos impostos e contratam mais um director-geral, uma secretária ou outro amigo ou amigo de um amigo qualquer.
Fodam-se o tais ministros que insistem nos tais impostos e ainda por cima aumentam as suas regalias.

Fodam-se os gajos que andam no gamanço e que lixam pessoas que já não têm dinheiro para dar, sequer, aos pobrezinhos.
Fodam-se as “minorias” que não pagam impostos e que vivem à grande à conta das maiorias que os pagam e não é pouco.

Fodam-se e refodam-se os bufos que andam a controlar os colegas e fazem queixinhas ao chefe porque querem ficar bem vistos.
Fodam-se os empresários que acham que os seus empregados podem trabalhar 12 horas por dia, no mínimo, e serem pagos pela tabela mais baixa de salários, sem direito a horas extra.
Fodam-se e voltem a foder-se os empregados que deixam que eles os tratem assim e continuam a deixar.

Foda-se!!

Fodam-se todos os que não estão aqui mencionados: assassinos, corruptos, violadores, chulos, manipuladores, e todos os que se podem enquadrar neste grande foda-se.


Não sei se valeu a pena mas pelo menos fiquei mais aliviado.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Lady Of Dreams

Save me a place

In the heart of your hearts
When you think of love
Never forsake me
Wanting and dreaming you
Each time I think of you
Lying naked beside me
Only a Lady of Dreams
She will bring magic
To sing to your heartstrings
Only a Lady of Dreams
Come alive - you are all
That I desire!!

Save me a place
In the heart of your hearts
When you think of dreams
Never forsake me
Wanting and holding you
Each time I come to you
Lying naked beside you
Only a Lady of Dreams
Could there be magic
To sing to your heartstrings
Only a Lady of Dreams
Come alive - you are all
That I desire!!

Something tells me
This is love that surrounds
Only a fool
Without wisdom can see
Blind as I am
In your eyes
My Lady of Dreams

Save me, save me
A place in your heart
Tears escape from me
When we're apart
Please dream of me now
My Lady of Dreams
My thoughts and wishes
Are love that surrounds
Mysteries hold you
Then fly you away
You know you are my life
My Lady of Dreams

Save me a place
In the heart of your hearts
When you think of love
Never forsake me
Wanting and dreaming you
Each time I think of you
Lying naked beside me
Only a Lady of Dreams
She will bring magic
To sing to your heartstrings
Only a Lady of Dreams
Come alive - you are all
That I desire!!
Kitaro
"Dream"

quinta-feira, novembro 10, 2005

Outra certeza

O indivíduo acredita que é possível o amor.
Apesar dos acontecimentos que vêm abalando as suas convicções pacifistas, o indivíduo não se quer render a esta maré negra que invade o espaço público global e que afecta cada um em particular.

Está adiada a tentativa de ingresso nas forças especiais.
Incerteza

Depois de anos a fio a pensar que defende a não-violência, face às ocorrências que vêm tomando proporções inconcebíveis, o indivíduo começa a temer não ser capaz de aguentar as suas convicções e adaptar-se à nova filosofia de vida: salve-se o coiro da melhor maneira possível.
Este modo de encarar o quotidiano e a sua relação com sociedade causam-lhe grande instabilidade emocional e teme que a sua sanidade mental se desmorone de forma irreversível.

O indivíduo está a ponderar o ingresso nos comandos, pára-quedistas ou fuzileiros para poder agir em conformidade.

O indivíduo está triste.

terça-feira, novembro 08, 2005

Desejos

Já me perdi em mil desejos de mil maneiras diferentes.
Muitos os desejos…
O difícil é reencontrar o caminho de volta.
Reencontrar o tempo perdido nas ilusões.
Tempos difíceis, estes, em que as convicções são postas à prova dia a dia, hora a hora.

E à noite, quando os fantasmas da nossa mais íntima realidade nos visitam para nos recordarem quem somos na verdade?
E mesmo durante o dia, quando eles não adormecem e até cada palavra é um esgar de vergonha pela aparência que exibimos?

Houve um tempo em que acreditei que os desejos se tornavam palpáveis, reais.
Hoje apenas a sensação de uma realidade que nem sempre dá lugar aos mil desejos que quero partilhar.
Intervalo

Acidente de percurso faz com que a emissão da 1 da manhã fosse invadida por um vírus. Não das aves, não da gripe asiática. Não.
Apenas a troca de conteúdos que atenta leitura detectou e bem.

O verdadeiro já de seguida apenas com 12 horas de fuso horário
Vazios

Uma da manhã.
Apetece-me fumar mais um estúpido cigarro.
Sim, o tal que ando a adiar mandar para o lixo sem acender há anos.
Sei que o vou fumar… daqui a um pouco mais… quando estiver à janela ou na varanda a olhar o Tejo com as suas luzinhas trémulas, de barcos que esperam a partida para amanhã ou depois ou depois.

Mas isso pouco importa.
Também pouco importa se está frio e se deveria ir dormir.
O vazio não se esgota nestas pequenas andanças daqui até à janela, ou à varanda para queimar mais um cigarrito que talvez, definitivamente, deixe de acender.

O vazio não se esgota, preenche-se, elimina-se, alimenta-se, abandona-se.
Sem cigarro.


Sim… contigo.
Memórias

Constatei que há memórias que se apagam.... click. Desaparecem.
Afectos que se desvanecem, como se não tivessem nunca existido. Foram apagados da minha existência e apenas se mantêm nos confins do inconsciente.
E nem sempre são más recordações.
São momentos que deveriam estar disponíveis para consulta e que, por um qualquer motivo, passaram ao espaço do impossível ou do indesejável. Mesmo se desejáveis, mesmo se recordáveis.
A traição das memórias desejáveis que se escondem na gaveta do “impossível recordar”.