quinta-feira, março 29, 2007

Perdidos e achados…


Perdi o meu casaco de malha castanho, o que é um grande aborrecimento. É que eu sou, admito, um pouco minimalista no vestuário. Se é preto é preto, se azul é azul e assim… É claro que, tal como na maioria das coisas, não sou fundamentalista. Sempre tenho algumas soluções para quando me apetece variar.
Bem, é que de facto esta malhita me faz alguma falta, agora que o tempo está a mudar.
Já rebusquei a casa toda. Caixas e caixas ainda por arrumar…
Mas a verdade é que, quer se queira quer não, nas mudanças perde-se sempre qualquer coisa. Há sempre algo que desaparece, muitas vezes para sempre.
Com sorte, quando menos se espera, recuperam-se algumas que aparentemente sumidas para sempre, estavam somente fora de lugar.

Enfim… há outras que bem podem desaparecer de vez que não fazem falta nenhuma.
… não é o caso da minha malha castanha…





(Foto: andei por aí...)

quarta-feira, março 28, 2007

A casota…

… finalmente.
Cheguei, finalmente.
O dia desvaneceu-se estava eu na rua a pensar como seria bom sentar-me, melhor, abandonar-me no sofá, em frente a uma folha de papel… quer dizer… esta folha em branco e simplesmente dizer disparates.
Sozinho, encanto-me com o passar dos dedos por esta nova caneta, ou antes, este lápis (porque fácil de emendar, de apagar erros, enganos, manipular…) e deixar-me ir ao encontro do prazer, deste prazer que é disparatar.

Cheguei, finalmente.
Encostei-me no sofá e penso um pouco. Muito pouco porque já pensei de mais. Sempre de mais…
Sei que me vou estender na cama que fiz. Melhor ou pior é a cama que escolhi para mim.
Não me queixo, não me arrependo. Apenas um certo sabor acre no céu-da-boca. Acendo um último cigarro. Último do dia, que amanhã vou render-me a outros.

Pouco tenho que dizer.
Não me interessa fingir poesias, que não sou poeta.
Não me interessa mentir sentimentos, que não sou hipócrita.

Apetece-me ficar refastelado nesta sensação de me pertencer. Adquiri o direito de ser apenas o que quiser… por momentos… sou apenas quem sou e nada mais.

Adormeço porque estou em paz.


quinta-feira, março 22, 2007

O meu piano…

Há uns meses decidi contratar uma mulher-a-dias. É que a limpeza da casa dá um trabalhão e além disso, admitamos, um gajo pode ter muito boa vontade mas não tem o “toque”.
Bem, foi-me apresentada uma mulher ucraniana, credenciada como excelente. Bom… admito, também é jovem e bonita. Mas a verdade é que a minha casa, com dois dias por semana nas mãos desta rapariga, que se chama Vanessa, parece outra. E eu nem a tinha nem suja nem muito desarrumada.
Bom, como fiquei mais livre decidi também comprar um piano vertical. Finalmente iria ter tempo para aprender a tocar. Pois, que eu sei uns acordes, mas um só dedo às vezes toca em mais que uma tecla com resultados nem sempre agradáveis. Um amigo meu deu-lhe uma afinadela, nada de definitivo mas suficiente para ir dando uns toques até ter dinheiro para pagar uma afinação decente.
Então há dois meses que tenho ambos, o piano e a mulher-a-dias.
Há dias cheguei a casa mais cedo. Estava a abrir a porta e ouvi o piano.
Estranho, pensei… Entrei na sala e dei com a Vanessa sentada ao piano. Ela deu pela minha entrada. Nada perturbada, sorriu-me: “o seu piano precisa de ser afinado,” disse com aquela pronúncia arrevesada.
Olhei em volta e a casa estava impecavelmente limpa.
“Hoje despachei-me mais depressa para poder tocar um bocadinho… não se importa pois não…?”
Que não, que não, respondi prontamente… a minha cabeça pensava em aulas… mas depois da renda e das facturas todas já me resta muito pouco… uma borla… humm…

A partir desse dia, e já vamos com três semanas, passei a chegar mais cedo nos dias de limpeza. E passei a ter concertos de Beethoven, Tchaikovsky, Mozart e sei lá mais quem à borla.
Um verdadeiro 2 em 1.

Mas o que é verdadeiramente fantástico é esta pianista, com diplomas vários, ter a capacidade de gerir a sua actividade na indústria da limpeza com esta sensibilidade artística com uma simplicidade e uma beleza, apenas ao alcance dos verdadeiros artistas.
E isso é fantástico.


(Foto: no Google...)

sábado, março 17, 2007

Outra vida…













Permito-te, lágrima teimosa,
Que me arranhes a face

Esperava-te,
Desejava-te, até.

Agora, ganho coragem
Termino a viagem,

Não vou manter-me
No limbo da desgraça
Não canto fados
Não rezo orações monótonas

Cai a lágrima
Porque a vida, esta,
Não me serve
Porque o tempo, perene,
É amo e senhor
É dono do amor

Depois de voltas e voltas
De corridas em contra mão
Sento-me no silêncio

Da noite

Do vazio

Despejo os segredos
Que me restam
No rio onde adormecerei

Sempre gostei do rio
E do mar
E do céu
E do sol

Não vou morrer fechado
Entre paredes geladas

É tarde.
Acendo um último cigarro
Parente próximo do cálice
Onde se esgota a última gota
Da última garrafa.

Deixo um sorriso,
Breve,

Amanhã estarei noutro mundo
Onde as lágrimas são sorrisos

Nada a temer
A vida toda para viver

Finalmente!!


(Foto: Nuno Ferreira)

sexta-feira, março 16, 2007

O mais longo adeus…

Pensava que tinha perdido a inocência quando bati com a porta e saí à procura de uma nova felicidade.
Pensei que a ingenuidade se tinha gasto nesse momento, breve, nesse instante em que, do lado de for a, olhei a madeira que me separava de um tempo já ausente.

Pensei tantas coisas…

Foi preciso o outro adeus, mais doloroso, mais libertador, também, para entender que afinal a inocência se tinha perdido naquele último esgar de raiva e de tristeza – eu não os consegui nunca separar –, para entender que afinal ainda guardava uma réstia dessa inocência já inadmissível.

Então olhei para o mundo e o meu olhar era um outro olhar.

Sôfrego de vida, alimentei-me de momentos efémeros. Deixei-me errar ao sabor do éter, do sol, da noite.

Andei por mesas de fumo, de álcool, de putas, de sorrisos fáceis, de toques inócuos. Enganei e fui enganado. Corrompi e fui corrompido.

No meio desta viagem aprendi a parar o tempo. Como fotografia ou pintura, retive na mente os instantes. Arquivei-os numa qualquer gaveta onde os posso ir consultar, onde me interrogo, onde me afirmo.
Empiricamente, que de científico apenas tenho as minhas razões, a minha vontade, adivinho as consequências de todos os actos.
Sei. Apenas sei que sei. E é por isso que também tenho a certeza de que as minhas certezas apenas são minhas. É a minha prerrogativa.

Um dia saltei do anonimato e quis dançar ao som de novas músicas.
De algum modo encontrei par e perdi e encontrei e perdi e encontrei… e perdi… e encontrei…

Mas no fim da dança fica a sala vazia.
Encontrei o repouso no meu quarto mais escuro.
Encontrei um novo recomeço.
O fim de um tempo é sempre o início de uma nova viagem.
Escolhi o regresso às origens de um eu que se tinha escondido numa cama confortável e macia.
Decidi construir o meu próprio leito e fazer a cama com os lençóis que eu próprio escolhi.

Agora, um passo de cada vez, sempre longe das paixões – cruéis porque ilusórias e fátuas – caminho para os limites da consciência, para as margens da vida.


E este último adeus é o mais sincero e doloroso de todos.
Renascer implica abandonar.
Já não me visto de branco. O negro combina melhor com a partida.

Fica-me a cumplicidade de um piscar de olhos.
… O passado é uma mancha… o futuro a miragem do desejo…



(Fotos: Ant, Luís Neto, Luís António Alves, Paulo de Sousa e Google)

quarta-feira, março 07, 2007

Demasiados anónimos...

Por isso vou vedar de novo os comentários sem registo.
Pois... temos pena.
Ainda por cima recebo mails estranhos supostamente do administrador do Google (?).
Isto depois de uns anónimos, penso que spams (os chatos).

Assim aqui vai letrinhas e quem gostar de visitar e deixar comentários tenha paciência.

Enfim, é lamentável mas é a esfera que temos e por isso há que fechar as janelas aos incómodos.

Proponho mais esta reflexão que aliás já tem sido feita um pouco por todos nós.

Agradeço aos irredutíveis apesar da ausência.
Um dia destes conto a história... hehehehehehehe...

Trabalho oblige e tal...

Fiquem bem

Foto? Aceito sugestões ;))