Aqui há dias alguém me disse “é pá, vocês são todos uns miúdos com corpo de homem...”, a propósito dos meus amigos. Daqueles que conheço há tantos anos que já nem me lembro, que não se deixam enganar por tretas (porque dão logo por elas, mesmo que não digam nada... e nós sabemos...), enfim, dos amigos que se nos dão umas pancadinhas nas costas, também nos dão com uma marreta quando se justifica.
O alguém em causa é uma mulher e não é nada parva, diga-se, e aquilo não foi bem um elogio, embora não fosse, também, uma crítica em si mesma.
Bem... pensei eu... não é completamente mentira... a malta tem algumas tiradas imberbes, das que só podem ser entendidas à luz de uma vivência particular e específica.
Mas isso pouco interesse tem.
O que é engraçado é que de repente me pareceu óbvio que a grande maioria de nós, os homens, somos mesmo uns putos.
E porquê? Perguntam eles de pé atrás, enquanto elas dizem, rindo a bandeiras despegadas que “sim, sim... grande verdade”, aproveitando a oportunidade para cascar no pessoal.
A ideia em si mesma já me fez rir.
Na verdade, a maioria das coisas, para nós, são passam de brinquedos. Brinquedos que, mesmo bem guardados e tratados com carinho, têm um prazo de validade, que perdem a piada com o uso, que devem ser maiores e melhores que os do amigo, enfim, brinquedos que, como qualquer brinquedo, são comparáveis, substituíveis, e para desmontar.
(Abro parênteses para confessar que acho esta ideia mais divertida que a invejazita – e essa nada infantil mas de maldade refinada – que as senhoras têm umas contra as outras a propósito dos seus brinquedos... Quem nunca reparou os olhares invejosos para os sapatos, a saia, as pernas, o companheiro... “daquela megera que tem uma sorte do caraças...”)
Ao contrário delas (generalizando, claro...), que levam tudo, ou quase, a sério, a vida para nós é uma brincadeira pegada.
É o futebol, o carro, a mota, a namorada ou mulher ou amante ou isso... a casa, a escola, o emprego, etc. etc., tudo serve para brincar. As consequências da brincadeira às vezes são dramáticas, claro, mas tudo se resolve com uma piada ou uma brincadeira nova, seja lá ela qual for.
E, se putos mimados, quando contrariados fazemos birra e amuamos ou então e outra vez, a estratégia da brincadeira é a fuga fácil que evita o castigo, contra a parede e sem brincar durante uns dias...
Agora, é isto mau em si mesmo? No essencial? Não me parece.
A verdade é que a vida é uma brincadeira pegada.
Os nossos bens (mas são mesmo nossos?), não passam mesmo de brinquedos que depois de usados perdem o brilho e a piada.
Os nossos entes queridos são afinal criaturas que não nos pertencem de facto. O uso do “minha”, “meu”, é tão efémero quanto inútil.
(Fotos: por aí...)