sexta-feira, dezembro 29, 2006

Ano novo…


















É um novo ciclo, mais um.
Apenas e só um suposto reinício.
Ouvi sempre aquela coisa do ano novo vida nova e tal…

Mas a vida nova começa sempre quando se sente a imperiosa vontade de mudar.

E muda-se mesmo. Talvez sim… talvez não…

Acredito nas mudanças…
Há por aí tantas empresas que transportam as mudanças que temos que é difícil não acreditar.
Acredito, pois então.


Assumidamente mudo-me.

Fica o desejo de voos e navegações por novas paragens, sempre reavivadas pelo repouso no interior dos espaços escolhidos.

Parto vezes sem conta.
O regresso, esse fica por minha conta.

Não quero as amarras do desânimo, nem outras quaisquer.
Apenas regresso sempre que quiser.

Deixemos correr as águas e mergulhemos no novo ciclo com o olhar sempre brilhante.

(Foto: Ricardo Frantz)

quarta-feira, dezembro 20, 2006

O ninho…

O ninho estava quase pronto.
Ao fim de alguns anos de aventuras e desventuras, tinha arriscado a construção de um espaço onde se recolher e meditar.
Pelo caminho tinham ficado as loucuras próprias da juventude.

Agora, que se preparava para percorrer a viagem por que tanto esperara, apenas queria repousar um pouco e tratar das feridas adquiridas durante quezílias e desventuras próprias de imberbes loucuras.
Sentado em frente à janela, olhar fixo no horizonte, recordava as últimas adversidades.
Sorria enquanto pensava como tinha passado por cima das contrariedades e como ganhara a confiança da princesa.
Sentia o odor das últimas noites, que haviam extinto sentimentos pouco gratos e dos quais não se orgulhava, e ansiava pelos momentos que se adivinhavam ardentes.
Virou-se e olhou em redor.
O ninho ganhava forma. Tivera que fazer alterações de última hora. Mesmo assim sentia, finalmente, ter chegado a casa.
Agora, enquanto se preparava para desfazer as malas, respirava aliviado e calmo, enquanto aguardava que a noite chegasse e trouxesse com ela a princesa.
Mais uma vez era a aventura do desconhecido que o atraía.
Ergueu-se e sacudiu a preguiça própria dos viajantes. Era tempo de recomeçar.


(Foto: Ant)

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Paragem...


... e então quando quis arrancar a coisa ficou-se-lhe ali, parada.






... caraças, disse. Isto assim parece uma pelintrice tamanha...

e para arrancar à mão... vai lá , vai.

A coisa era pesada de mais.
Para baixo apenas a encosta da escarpa que apenas findava junto ao areal onde as ondas furiosas se revolviam.

O que havia a fazer era pedir ajuda, já que, incapaz de resolver a situação sozinho, tinha que baixar o ego e deixar que alguém desse uma mãozinha.

E o perigo? E se os maus apareciam em vez dos bons?
Era preciso tirar a princesa daquele local rapidamente.
Mas para isso era preciso abandoná-la por momentos.
Ela parecia calma e tranquila.
Então correu até à estalagem mais próxima, aquela que se avistava por entre a neblina marítima, em busca da salvação.

(Foto: Jaime Bahia)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Afectuosamente...
















Leio muitas vezes na net e escuto muitas vezes em muitos sítios que “há défice de amor e carinho”, que a “amizade não existe”, que os “afectos se esgotaram” e outras coisas do género.
Mas a verdade é que quando a manifestação, ou a exposição desses atributos todos, é manifestada, algo de estranho se passa.
Já me apercebi que, afinal, quando a maior parte de nós sente que o amor é desinteressado, superior, etc., afinal, bastas vezes, apenas estamos à espera do aconchego, do mimo, do quentinho.
É por isso que cada dia que passa se sente a densidade da solidão colectiva.
Há tanta gente que se vai perdendo em fugas, em relacionamentos (não relações), quase diários, que depois, quando este modelo é dissecado à nossa frente, simplesmente não acreditamos.
E cada vez mais, se fica no vazio de encontros fortuitos, às escondidas, no limite do risco.
O post anterior refere-se ao início (ou tentativa de) de uma relação lésbica. Poderia ter sido uma conversa entre dois homens.
Poderia ter sido entre um homem e um mulher.
“Vem ter comigo!!”. Este grito, já o escutei muitas vezes. Já o gritei também.

A homossexualidade é uma questão tão delicada como a do aborto.
Em ambos os casos há sofrimentos, opções, olhares, culpa, medo, etc.
É claro que nem sempre, nem tudo, entendo.
É claro que todos fazemos, mais ou menos, juízos de valor.

Continuo com aquela frase (um dia destes faço um t-shirt): We are just people.
É muito óbvio.
Será?
Às vezes há pormenores que nos escapam, só porque estão sempre ali. Presentes.


(Foto: Levindo Carneiro)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Corpos trocados...













Amamo-nos em segredo
No limite da paixão
Procuro-te na escuridão
Do sufoco e do medo.
Anseio a liberdade
De mãos dadas, abraços
Onde o amor nos apetece,
Onde nos levam os passos.

Chamo-te na clandestinidade.
Murmuras-me o nome
No mistério da penumbra
Que seduz e deslumbra.
E nestes corpos trocados
Que o mundo cerca,
A claridade sufoca
Abreviam-se gemidos.

Mas na audácia do afecto
Há um novo alento.
E em cada abraço
Um novo tempo
Um novo espaço.

Chegou ansiosa, no meio da festa com a voz embargada pela paixão (e pelo álcool que a encorajava).
No outro lado da linha estava uma mulher, apaixonada, clandestina, aprisionada.
E para além de todos os limites o amor jorrava.
A realidade, uma moldura onde se aprisionam desejos, afigura-se para além das aparências, para além das escolhas.
Ajuizar é fácil e apenas se desfaz perante a inevitável consciência.


(Foto: Aneta Badziag – Car Park)

sábado, dezembro 02, 2006

Poesia em ti…



Olho-te dormindo calma, plácida.
Sorris como criança satisfeita
Depois de saciado o apetite voraz.

Passo-te os dedos pelo cabelo rebelde
Ainda perfumado com aromas quentes
Doces, inebriantes.

Bebo-te a doçura apetitosa,
Nesse sorriso cálido
Em que me fascino,
Nessa paz ditosa.
Quedo-me nessa placidez
Embalo-me outra vez
No poema em ti
Em que me entreguei e revi.


(Foto; Pedro Gomes)