Ça n'existe pas... Chegámos a um ponto em que é fácil o desencontro, o equívoco. Não sei o que esquecemos, o que nos desgasta, mas os nossos abraços, embora ainda nos unam e nos aqueçam, perderam a frescura e a espontaneidade de outros tempos. Lembras-te de como eram os nossos encontros ao fim do dia? Quando bastava a presença iminente do outro para que o desejo fosse tão forte que só se consumia com os nossos corpos unidos em êxtase? Esperávamos-nos, ambos disponíveis para a troca de olhares cúmplices, simples consonância de um só desejo ampliado em mil reflexos, muito para além do que é inteligível. Para trás ficavam afazeres, responsabilidades, urgências, porque urgente era esgotarmos esse desejo que nos impelia para o sexo, única forma de materializarmos esse amor que, de tão intenso, não se compadecia com a palavra amo-te. Será que o tempo nos castiga, retirando-nos o prazer de desfrutarmos os nossos corpos? Serão os deuses que, invejosos da nossa sorte, nos aprisionam no hábito e no tédio? Não havia lei nem ordem a que obedecêssemos. Quem despia quem? Não sei porque não fixei, não estudei, não retenho a inutilidade. Recordo apenas que os lábios, antenas de sensações, percorriam cada poro dos nossos corpos, até que faltasse apenas a minha penetração em ti para que a terra, em vertiginosa rotação, tivesse que quedar-se, para que o mundo não perdesse o equilíbrio. E depois, em silêncio, as carícias, suaves, eram o epílogo de um momento, apenas, que iríamos repetir sempre, para sempre. Olha para nós. Eu saboreio um cálice de Porto, saboroso, acredita. Tu comprazes-te com poesia, de um bom livro, certamente. E nós? Onde ficámos nós, para que nos encontremos apenas às vezes, quando o Porto e a poesia não nos preenchem o vazio?
domingo, abril 03, 2011
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