segunda-feira, outubro 08, 2007

Boa gente…













Ele era um bom homem. Daquelas pessoas que nos habituamos saudar no café, com quem gostamos de conversar.

Gostava de rir. Desde miúdo que se divertia com partidas inocentes, daquelas que irritam um adulto dos mais santos, mas das quais a única consequência é essa mesmo. Mas também se assim não fosse não seriam partidas.
Depois, casado e com filhos, e um cão, mantinha a sua postura divertida. Sério, procurava ser coerente. Nem sempre o conseguia, mas também quem consegue?

Um dia apareceu triste. Sem motivo aparente tinha saído de casa. Sem motivo aparente deixara o “quentinho do lar” como costumava dizer.
E essa tristeza não mais o abandonou.

Um dia, vi a notícia no jornal. Tinha sido preso.
No meio de toda a confusão que, afinal, a sua vida era, começara a não suportar o emprego.
A indiferença pelo seu esforço profissional, a dificuldade em gerir um orçamento que não esticava – esticava graças aos cartões de crédito… que têm de ser pagos – acabaram por empurrá-lo para o pior que lhe poderia ter acontecido.

De facto, alguns sinais exteriores vinham indicando que este indivíduo estava a fenecer aos poucos. O ódio que o vinha consumindo era presságio de algo de muito radical e mau.
Ninguém acreditava que aquele homem um dia entrasse pelo escritório e, de arma em riste, descarregasse o carregador da pistola – ninguém imaginava que ele tivesse aquele objecto – no administrador da empresa onde trabalhava há anos.

Afinal, o homem que todos conhecíamos como apaziguador de iras, vivia num mundo que ninguém conhecia, nem sonhava sequer.

Agora trava a batalha mais dura que alguma vez quis enfrentar. A dor de se ter rendido à maior das paixões, tão próxima do amor, como o céu está do mar.



(Foto: Isabel Silva – Tormenta)


5 Comentários:

Blogger hora tardia disse...

"... A dor de se ter rendido à maior das paixões, tão próxima do amor, como o céu está do mar."


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proximidade sempre perigosa. mas afinal é o que dá "onda" à vida...não é?

___________________________
sem título?

sei um: perto do céu. ao lado do vulcão.

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beijo. Ant.

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8:11 da tarde  
Blogger Marta Vinhais disse...

Complicada, não é a situação?
A raiva, o desespero - sentimentos negativos, mas existem...uns conseguem controlar, mas outros não..
Não há certezas...
Texto poderoso, Ant....
Beijos e abraços
Marta

12:51 da tarde  
Blogger Unknown disse...

sem dúvida que encerramos muitos homens dentro de nós, alguns, nem nós próprios os conhecemos..

:|

o abraço de sempre

11:14 da tarde  
Blogger Heloisa B.P disse...

UMA VIDA TORMENTOSA!!!!!
_ACONTECE A MUITOS, EM SILENCIO!_NO SEU SILENCIO REPLECTO DE BARULHOS INTERIORES_; ATE' QUE UM INESPERADO DIA SE DA' A EXPLOSAO!!!!!!!
...............
TRISTE REALIDADE DE MUITOS!
_CRUZAMO-NOS DIARIAMENTE COM DORES E AMARGURAS QUE NO NOSSO DISTRAIDO EGOISMO NEM DESEJAMOS SUSPEITAR!!!!!
..............
Fica meu ABRACO!
(ele, provavelmente, nunca teve VERDADEIROS AMIGOS ABRACOS E MENOS AINDA *OUVIDOS* DISPOSTOS A ESCUTA'-LO!!!!!

_QUEM SABE?????
_SABERA' A "TAL VIDA",a quem atribuimos todas as FATALIDADES!????.....
.....................
Heloisa
**********

9:10 da tarde  
Blogger Peter disse...

Gostei deste texto, tão real. Até onde resiste a capacidade de "encaixe" de um ser humano?
Por vezes costumo dizer que estou com o "spleen". Agora ando com ele, mas não, não vou atirar sobre ninguém, fecho-me sobre mim mesmo.

Talvez eu esteja a precisar de férias do blogue. Começo a ficar farto.

12:06 da tarde  

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