Não tenhas medo.
Alguém vela por ti…
O CORPO DOS CONDENADOS
Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir perdão publicamente (...) um executor… atenazou-lhe primeiro a barriga da perna direita, depois a coxa, daí passando às duas partes da barriga do braço direito; em seguida os mamilos. Este executor, ainda que forte e robusto, teve grande dificuldade em arrancar os pedaços de carne que tirava em suas tenazes duas ou três vezes do mesmo lado ao torcer, e o que ele arrancava formava em cada parte uma chaga do tamanho de um escudo de gela libras.
(…) Damiens, que gritava muito sem contudo blasfemar, levantava a cabeça e se olhava; o mesmo carrasco tirou com uma colher de ferro do caldeirão daquela droga fervente e derramou-a fartamente sobre cada ferida.
(…)tiraram cada qual do bolso uma faca e lhe cortaram as coxas na junção com o tronco do corpo… a seguir fizeram o mesmo com os braços, com as espáduas e axilas e as quatro partes; foi preciso cortar as carnes até quase aos ossos.
(…) Dentre tantas modificações, atenho-me a uma: o desaparecimento dos suplícios…Punições menos directamente físicas, uma certa discrição na arte de fazer sofrer, um arranjo de sofrimentos mais sutis, mais velados e despojados de ostentação… desapareceu o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como alvo principal da repressão penal.
A punição pouco a pouco deixou de ser uma cena.
A punição vai-se tornando, pois, a parte mais velada do processo penal, provocando várias conseqüências: deixa o campo da percepção quase diária e entra no da consciência abstrata… Por essa razão, a justiça não mais assume publicamente a parte de violência que está ligada a seu exercício.
O suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vitimas e a manifestação do poder que pune… Nos «excessos» dos suplícios, se investe toda a economia do poder.
O suplicio judiciário deve ser compreendido também como um ritual político. Faz parte, mesmo num modo menor, das cerimónias pelas quais se manifesta o poder.
(in Vigiar e Punir, Michel Foucault )
Para que não tenhamos medo, alguém vela por nós enquanto dormimos.
Alguém vela por ti…
O CORPO DOS CONDENADOS
Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir perdão publicamente (...) um executor… atenazou-lhe primeiro a barriga da perna direita, depois a coxa, daí passando às duas partes da barriga do braço direito; em seguida os mamilos. Este executor, ainda que forte e robusto, teve grande dificuldade em arrancar os pedaços de carne que tirava em suas tenazes duas ou três vezes do mesmo lado ao torcer, e o que ele arrancava formava em cada parte uma chaga do tamanho de um escudo de gela libras.
(…) Damiens, que gritava muito sem contudo blasfemar, levantava a cabeça e se olhava; o mesmo carrasco tirou com uma colher de ferro do caldeirão daquela droga fervente e derramou-a fartamente sobre cada ferida.
(…)tiraram cada qual do bolso uma faca e lhe cortaram as coxas na junção com o tronco do corpo… a seguir fizeram o mesmo com os braços, com as espáduas e axilas e as quatro partes; foi preciso cortar as carnes até quase aos ossos.
(…) Dentre tantas modificações, atenho-me a uma: o desaparecimento dos suplícios…Punições menos directamente físicas, uma certa discrição na arte de fazer sofrer, um arranjo de sofrimentos mais sutis, mais velados e despojados de ostentação… desapareceu o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como alvo principal da repressão penal.
A punição pouco a pouco deixou de ser uma cena.
A punição vai-se tornando, pois, a parte mais velada do processo penal, provocando várias conseqüências: deixa o campo da percepção quase diária e entra no da consciência abstrata… Por essa razão, a justiça não mais assume publicamente a parte de violência que está ligada a seu exercício.
O suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vitimas e a manifestação do poder que pune… Nos «excessos» dos suplícios, se investe toda a economia do poder.
O suplicio judiciário deve ser compreendido também como um ritual político. Faz parte, mesmo num modo menor, das cerimónias pelas quais se manifesta o poder.
(in Vigiar e Punir, Michel Foucault )
Para que não tenhamos medo, alguém vela por nós enquanto dormimos.
15 Comentários:
...quem dera....quem dera que sim.....
belíssimo post.
um beij__________________O!
E o medo vem do interior ou do exterior?
(pelo exterior age-se, a propósito de um comentário no meu blog :P, pelo interior, o que se faz? eheheh, não resisti!!)
Teresa, age-se sempre, digo eu...
Mas a vigilância anda cada vez mais apertada.
Ó admirável mundo novo... agora o suplício do corpo é substituído pela dor da alma, em segredo. Cada vez mais.
...Dizem que sim, que alguem vela por nós durante a noite...
...mas tem dias que acho que ele (o anjo da guarda) adormece também e não me liga nenhuma...
...valeu o teu texto...
Ant,
No post era o que falava. Quando a alma doi em segredo nem sempre pode-se agir de imediato.
(mas mudando de assunto...)
Penso que era bom que alguém velasse por nós enquanto dormimos mas, infelizmente, nem sempre acontecesse (embora o diga aos meus filhos)
A vigilância é muitas vezes seguida de alguma punição.
O erro foi meu deveria ter posto "vela" ou "zela".
É um livro a ler para quem não teve oportunidade.
Qual é a pior violência, a física ou a psicológica? Julgo ser a psicológica...
Não, acho que ninguém vela por nós, nem quando dormimos quem quando estamos acordados. Houve um tempo em que acreditei nesse guardião, depois vi que, mesmo ele, é impotente para combater a doença e a dor extrema quando eles chegam. A vida é dura mas é só o que temos.
eles não... elAS. caio de sono... ;)
araj, experimenta "psicologicamente" levares uma boas bordoadas na cabeça e depois diz qualquer coisa.
caiê o teu esfoorço merece que te diga que não é desse guardião que se trata. É dos outros, dos maus... era para ser uma ironia.
... e tu velas por mim, que eu sei... obrigada pelo teu mimo... : )
Um beijo.
Este texto ficou forte: acho mesmo que pode causar até arrepios... Tem uma boa semana! Jokas
E insistem. Bolas.
Vocês leram o texto verdadeiramente? Desconfio que devo ter errado algures... ou não...
ainda bem q alguém toma conta de nós enquanto dormimos, ant
beijinhos. dorme descansado
Ok vou ler o texto mais uma vez com atenção.
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