sábado, abril 29, 2006

Games Without Frontiers


O silêncio dos olhares cumpre-se no limite da cumplicidade, em presença de um outro que é o nosso espelho.
As palavras ganham sentidos incertos e titubeantes, viagem pelo planeta maior que é a partilha dos espaços em aberto.
É então que se abre a porta de um imenso mar, onde se joga a intensidade do amor e da meiguice que se aprende a descobrir em cada esquina da sedução, em cada janela da ternura.
O corpo transforma-se em pista de dança, em cama sem lençóis, em instrumento de moldar vocações e de inventar e reinventar para além dos limites.
Já não há fronteira entre o espaço desta esfera imaginária e desconhecida e a esfera do perceptível. As personagens de uma misturam-se com a ideia construída na outra e fundem-se nas mesmas delírios, nas mesmas ilusões.
E o desejo ganha a dimensão de um céu aberto à espera que os viajantes recomecem a viagem uma e outra vez.
A arena está preparada.
Que comecem os jogos.

(Foto: Quando Te Abraco Tudo Faz Sentido, Jandira Gitirana Praia)

segunda-feira, abril 24, 2006

Over The Rainbow

Somewhere over the rainbow
Way up high
There's a land that I heard of
Once in a lullaby
Somewhere over the rainbow
Skies are blue
And the dreams that you dare to dream
Really do come true

Some day I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far behind me
Where troubles melt like lemondrops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me

Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly
Birds fly over the rainbow
Why then, oh why can't I?

(Arlen-Harburg)

O filho da mãe do puto que se esconde em mim ainda acredita no pote cheio, não necessariamente de ouro, que se encontra no fim do arco-íris.
É isto normal?

E quando se perde a inocência? Já não há pote?

Foto: António Manuel Pinto da Siva

sábado, abril 22, 2006

Quando menos esperamos…

O passado mais remoto revela-se num encontro, em conversas de amigos que se encontram em amena cavaqueira.
Como película, emergem da memória mais íntima os cheiros, as cenas algures perdidas mas recuperadas porque são nossas, sempre que as quisermos ter.


Os saltos nas fogueiras, as lutas e os velhos chateados com putos mal comportados. As corridas, os primeiros beijos, a primeira bebedeira.
E tudo porque o coração, já regenerado, se deixa converter em lágrima de saudade, num momento em que toda a vida quis regressar a um qualquer ponto branco de partida.

segunda-feira, abril 17, 2006

48 Horas…





Na cidade onde nunca sou turista acidental e onde adormeço com sonhos de miúdo à procura do fim do arco-íris.

Reencontro nas ruas aromas e
imagens reminiscentes de uma outra cidade.




Por isso dispo-me em ti como se o mar não fosse
um imenso deserto onde afinal tudo desaba.


Então, seguro-te na mão e disparo o engenho a partir do qual saltamos a vertigem das palavras que se chamam Torre da Babel e os











olhares têm o nome de papel onde te espraias e te confundes com a loucura de uma cidade mutante.

Depois, só,
percebo o quanto é bom
sentir o sabor amargo
que a liberdade
tem em si.
Interiores...

Eles vão observar-me por dentro. Vão-me olhar o coração e reparar as peças que aceleram quando deveriam estar calmas e pausadas.
É curioso que para chegarem a este centro de paixões e ansiedades eles entrem bem junto de onde se movem instintos.

Espero que a bisbilhotice dê resultado.
Huumm, sabe-se lá o que eles vão encontrar.

Ainda bem que têm que manter sigilo, se não...

quinta-feira, abril 13, 2006

Intervalos












Na música, um intervalo é a distância que vai entre duas notas. Há intervalos maiores e menores, consonantes e dissonantes.
Uma coisa é certa: Quanto maior o intervalo, mais notas se podem tocar e, consequentemente mais variações (que são a apresentação de um tema diversas vezes mas de cada vez um tanto modificado, melódica, rítmica ou harmonicamente), são possíveis.

quarta-feira, abril 12, 2006

(Des)Afinações













Uma das coisas mais importantes na música e para um músico é a afinação dos instrumentos. Um só instrumento desafinado, a solo ou em grupo, é algo confrangedor de se ouvir.
Ora nos (des)concertos da vida não há muitas diferenças. As desafinações são motivadoras de equívocos e mal entendidos que, a prazo indefinido, têm consequências.

Este post que iria brincar um pouco com as desafinações virtuais ganhou uma nova direcção com leituras pouco virtuais sobre problemáticas bem reais.

“Filhos Tiranos” é o título de um artigo que li hoje na revista de Domingo do Correio da Manhã.
A questão, pouco conhecida mas muito real, é a de filhos que desatam à bofetada a pais e mães e partem a loiça toda lá em casa. Enfim, o descambar completo, não da estrutura familiar, que essa já está periclitante, mas mais grave que isso, da carência absoluta da dignidade entre pessoas que se deveriam respeitar, para não dizer mesmo amar.
Não vou alongar-me porque o assunto está suficientemente claro na revista. Apenas cito: “Quando um filho maltrata ou bate num dos pais, a violência doméstica tem outra face: a da vergonha. São histórias escondidas entre as paredes da casa.” (sic)

Afectos desafinados.
O Marco morreu porque não entendia que a Sónia já tinha deixado de ouvir a mesma música e não desistia. António entendeu dois tiros iriam resolver o problema da filha. Agora uma filha de 5 anos vai ter que aprender a perdoar. A Sónia vai ter que encontrar a sua afinação.

Que linha tão ténue esta. A distância entre o amor e o ódio confundem-se nestas desafinações que não permitem a orquestra tocar em uníssono.
Fico pasmado quando palavras escritas têm o poder de provocar tantos equívocos só porque palavras escutadas não merecem atenção.


É então que se trocam as pautas e a orquestra não toca a mesma harmonia.

segunda-feira, abril 10, 2006

Actualidades
2 títulos, apenas...

Bons alunos não querem ser militares
Só cábulas querem tropa
“Os dados relativos ao insucesso escolar revelam que são sobretudo os jovens cujos percursos escolares estão marcados pela reprovação que têm maior propensão para o ingresso”
(In Correio da Manhã)

E admiram-se?

MENINA DO BLOGUE ASSEDIADA POR EDITORAS
... Paula Lee mantém na internet um diário inspirado na sua actividade de prostituta (...) Paula recebe 60 mensagens de e-mail por dia, tanto de homens como de mulheres, muitas vezes solicitando aconselhamento ou apenas atenção.
(Idem)

Vamos lá pensar em conjunto...

quarta-feira, abril 05, 2006

Viajar em ti...

Olhei para ti do umbral da porta. O sol tocava-te através da janela e fazia emanar de ti uma incandescência que me transportava para espaços etéreos, de liberdade.
Ia sair para o trabalho, e estava atrasado, mas senti o desejo de trepar por ti e ficar mais um pouco a gozar da tua presença, calmamente, sem pressas. Que se lixe a pressa, inimiga da perfeição e do contentamento.
O teu ronronar é um apelo e quis acariciar-te, a ti que és minha, sem limites.
Subi por ti, calmamente, e ficaste-me entre as pernas. Estremeceste ligeiramente ao meu contacto, apenas o suficiente para eu saber que tinha que te agarrar de imediato.
E ali fiquei, acariciando cada curva brilhante de ti, o sol a cegar-me a visão do horizonte que vinha lá de fora.
Já sabia que íamos cavalgar estradas conhecidas, mas apaixonadamente, numa ligeireza voraz que só tu me permites, desafiando o perigo do espaço que nos foge, alucinante.
É tempo de partir. Apesar de desejar contemplar-te, escutar-te a respiração, a ti que me fugias, tive que sair acelerado, porque o tempo já foge e ninguém perdoa demoras.

Coloquei o capacete na cabeça e acelerei.

Contigo possuo a liberdade de correr ao lado do vento.

http://img.2dehands.nl/f/normal/10184875.jpg
http://www.skulin.fo/VES/island/myndir/Harley%20Davindson.jpg

Hehehe

terça-feira, abril 04, 2006

Busca nas Palavras















Entre o Sol e a Lua
Dão-se encontros mágicos.
Entre a Terra e o Mar
Danças e cadências,
Corpos bamboleantes,
Sensuais.

Entre a Noite e o Dia
Mistérios coloridos.
Entre o Céu e a Terra,
Os poetas lavram
Em papel
As mensagens, imagens.

Verdadeiros ou falsos
Os heróis existem
Na noite calada.
E morrem e vivem
Sem descanso
Bonecos de papel…

Os mortos e os vivos
Buscam nas palavras
Que fazem sentido,
Ao acordar
E ao adormecer,
Profecias verdadeiras.
GRITOS

Eu passei
Uma ponte tão grande
Uma estrada tão longa
E meditei
Eu andei
Pelas ruas do mundo
Por bares de fumo
E gritei

Eu olhei
Um rio a nascer
Sei que não vai morrer
Meditei
E olhei
Uma igreja tão cheia
Que se perde na "ideia"
E gritei.

Gritos
Gritos de almas famintas
Vozes de toda agente
Pobres ou distintas

E tu estavas na noite
Com o peito aberto
A fugir ao deserto
A fugir ao deserto

sábado, abril 01, 2006

Não tenhas medo.
Alguém vela por ti…



O CORPO DOS CONDENADOS
Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757, a pedir perdão publi­camente (...) um executor… atenazou-lhe primeiro a barriga da perna direita, depois a coxa, daí passando às duas partes da barriga do braço direito; em seguida os mamilos. Este executor, ainda que forte e robusto, teve grande dificuldade em arrancar os pedaços de carne que tirava em suas tenazes duas ou três vezes do mesmo lado ao torcer, e o que ele arrancava for­mava em cada parte uma chaga do tamanho de um escudo de gela libras.
(…) Damiens, que gritava muito sem contudo blasfemar, levantava a cabeça e se olhava; o mesmo carrasco tirou com uma colher de ferro do caldeirão daquela droga fervente e derra­mou-a fartamente sobre cada ferida.
(…)tiraram cada qual do bolso uma faca e lhe cortaram as coxas na junção com o tronco do corpo… a seguir fizeram o mesmo com os braços, com as espáduas e axilas e as quatro partes; foi preciso cortar as carnes até quase aos ossos.

(…) Dentre tantas modificações, atenho-me a uma: o desapareci­mento dos suplícios…Punições menos directa­mente físicas, uma certa discrição na arte de fazer sofrer, um arranjo de sofrimentos mais sutis, mais velados e despojados de ostentação… desapareceu o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como alvo principal da repressão penal.
A punição pouco a pouco deixou de ser uma cena.
A punição vai-se tornando, pois, a parte mais velada do pro­cesso penal, provocando várias conseqüências: deixa o campo da percepção quase diária e entra no da consciência abstrata… Por essa razão, a justiça não mais assume publica­mente a parte de violência que está ligada a seu exercício.

O suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vitimas e a manifestação do poder que pune… Nos «excessos» dos suplí­cios, se investe toda a economia do poder.

O suplicio judiciário deve ser compreendido também como um ritual político. Faz parte, mesmo num modo menor, das cerimónias pelas quais se manifesta o poder.


(in Vigiar e Punir, Michel Foucault )


Para que não tenhamos medo, alguém vela por nós enquanto dormimos.